sábado, dezembro 23

Inspirações natalinas I

Imagem do Rio Paraíba do Sul retirada de: www.geology.hpg.ig.com.br




Meia Luz


Nasci sob os auspícios da constelação de Libra.


Também estava proscrito o crepúsculo de Câncer.


Nesta hora dois decursos de equinócios me marcaram


Sou astral, do sul, meridional.



A fotofobia é marca do corpo


Nascido e projetado à meia luz.


Minha aurora é libriana,


No primeiro ciclo primaveril.



Minha alvorada é canceriana,


No último ciclo outonal.


Olhos sensíveis, exigentes de penumbra.


Luz demais me ofusca.



À meia luz tudo é desejo, querer saber.


Assim nasci,


Sob a constante busca do equilíbrio.


E morro a cada descarte do que em mim excede.



Machado quase me leva com seu triangular primaveril.


Mas Drummond adverte-me autunalmente:


“Em maio tantas vezes morremos”.


Prefiro então o frescor vernal:


“Em setembro tantas vezes nascemos”.



Abaixo do Equador,


Sou filha da bacia nova, novíssima!


Litorânea, de limite.


Plástica, dobra-se aos meus olhos.



Na planície nova, há brisa ainda,


E eu dobro-me diante dos seus ares.


Sou como sedimentos aluvionais.


Ainda há muito a ser moldado!



“Oh, Rio Paraíba dos meus sonhos!


Leva a minha mágoa para o mar...”


Sou grumossolo, argila.


Rocha maleável, se molhada, e flexível!


Dureza é minha propriedade seca.



Sou também rocha secundária, e


Disto me orgulho!


Sou derivada e não derivante.


E isto me põe em movimento.



Do nascente ao poente.


E quando poento, poeto, ponho fim na eternidade.


Não me repito.


Sou sendo, poendo as cordas do universo,


Que me faz verso, que me faz prosa.



Márcia, 22/12/2006

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