
Memórias
De quando eu nasci
Não me recordo o anjo que me veio
Chego a me perguntar se
Naquela madrugada de 68
Havia algum anjo
disponível.
Nasci entre tremores de terra na planície,
Mimos exóticos de
jacaré domesticado por meu avô
E perdas sentidas do gato eletrocutado e
acudido debaixo do chuveiro.
(Havia um certo “ar” de eletrocussão, o gato era apenas um prenúncio)
Vésperas do AI-5
Ditadura desmascarada
Pos factum do maio francês
Cujas leituras tão díspares
Marcam ainda meu ser.
O anjo que me assistia
Não era nem safado, nem torto,
Certamente!
Penso que, talvez rouco, moco
Pois seu decreto ainda não escutei.
Na moca-louca aventura de viver
Aprendi a fazer-me surda
Pois nem toda palavra que pinga
É fonte de florescer.
Também,
Nem toda inaudição é nada.
Por vezes o silêncio comunica,
Por quem o faz, ou por quem o recebe.
Desprezo às palavras do anjo?
Imagina!?
Controle da sede da palavra que não chega!
Palavra-inteira, palavra-mundo,
Palavra-AMOR, que me sacia e liberta.
Márcia, 22/12/06.
Imagem obtida em: http://dali.urvas.lt/page18.html
Geopoliticus Child Watching the Birthof a New Man
(Criança geopolítica assistindo o nascimento do Homem Novo) Fantástica tela de Salvador Dali.
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