sábado, dezembro 23

Inspirações natalinas II



Memórias



De quando eu nasci


Não me recordo o anjo que me veio


Chego a me perguntar se


Naquela madrugada de 68


Havia algum anjo


disponível.


Nasci entre tremores de terra na planície,


Mimos exóticos de


jacaré domesticado por meu avô


E perdas sentidas do gato eletrocutado e
acudido debaixo do chuveiro.



(Havia um certo “ar” de eletrocussão, o gato era apenas um prenúncio)



Vésperas do AI-5


Ditadura desmascarada


Pos factum do maio francês


Cujas leituras tão díspares


Marcam ainda meu ser.



O anjo que me assistia


Não era nem safado, nem torto,


Certamente!


Penso que, talvez rouco, moco


Pois seu decreto ainda não escutei.



Na moca-louca aventura de viver


Aprendi a fazer-me surda


Pois nem toda palavra que pinga


É fonte de florescer.



Também,


Nem toda inaudição é nada.


Por vezes o silêncio comunica,


Por quem o faz, ou por quem o recebe.


Desprezo às palavras do anjo?


Imagina!?


Controle da sede da palavra que não chega!


Palavra-inteira, palavra-mundo,


Palavra-AMOR, que me sacia e liberta.

Márcia, 22/12/06.

Imagem obtida em: http://dali.urvas.lt/page18.html

Geopoliticus Child Watching the Birthof a New Man

(Criança geopolítica assistindo o nascimento do Homem Novo) Fantástica tela de Salvador Dali.

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