terça-feira, novembro 7

Desespero



Despeja-se em dor minha existência,

Espalha-se a aparência de sonhos desta estação...

Soluço em arranques porque sei

Que esta voz não aguenta

Tamanho silêncio, arrependimento, invasão...

Em desespero invade-me este soro cansado

Destilado a nascer por detrás deste vidro seco,

Meu cansaço, santo desprezo, murmúrios baixos...

E aquele afago, tão breve, não tarde

Vai-se cedo pela madrugada.

Das paredes cruas de uma carne fresca

Sinto uma jaula grande, marcada e arredia,

Apelante pelo dia que a alegria fosse sua...

E a pressão que então segue

Expulsa o que não mais serve, e perdura,

por sobreviver...

Minha morada pelos sons das risadas

Desculpa-se envergonhada pela covarde saga pertencer.

E tais muros, não tão muralhas

Oferecem-se apagados, já não querem mais.


E as correntes, e os portões, tantos porões de sobrevida

Por fases desconhecidas preferem se esquecer

das partes que a vida premia despercebida

Até que as labaredas distraem-se atrevidas e ousam aquecer

Até que chegam em graus, tão rápidos, tão decididas

Que destroem o cordão para se manterem...


Não bastasse o que no peito não bate e lateja

E que a vontade antes de ser adormeça

Pelas fontes árduas que o fel derrubou.

E a correnteza doce de paz e certezas

Que pela descrença das primeiras represálias disfarçadas

Expulsou a armadura dos fatos, do pensamento, do amor.


E como culpasse das razões as recaídas

E perdoasse as emoções que regem a vida

Minha persistência avança cada renascimento,

Todo o arrependimento que pulsa e arde,

Perseguida em revolta que rebate e

salta de cada volta na imensidão...


Imensidão deste puro vazio, deste choro já frio

Que se segue acostumado

Depois que triste faz-se o canto, o amargo tardio

Antes que grite este sonho já tão desbotado...

Até que espalhe pelos cantos de dentro

A morbidez tanta em desperdício bastardo

Do desespero, meu único acalento,

Quando a tristeza se parte cansada...


Só que destes contos ninguém se aproxima

Nem sequer interessa se as rimas

De fracas desfazem-se em pranto...

Se de convincentes felicitaram ao menos tal tinta

Que pela caneta se faz explodir...


Não importa se é de algum espanto

Quando na dor desfila o canto que me distrai

Pois mesmo que não agradem

São tais as palavras que sorriem e esvaem-se

São elas que também fogem de mim...
Marcelle

3 comentários:

Varanda do Degredo disse...

Vai um trago, sim!
Com a bênção de Shiva, que queima e dança!
Com o desespero que espera a lança...
para cortar o peito que ora lateja,
o corte esvazia a pressão, se desocupa,o nada assusta,
mas é espaço aberto para uma nova trança!!!!
É enlace novo que preenche o nada!
E ressignifica a luta para enfrentar o dia!
Márcia

Varanda do Degredo disse...

É Márcia, quem diria!!! Mas é isso mesmo. Também não posso e não pretendo fazer apologia ao tabagismo... Mas a justificativa mais plausível à minha fraqueza é essa... Eu sabia que já era lida nas entrelinhas... Beijo!

Varanda do Degredo disse...

Merece publicação!!! Vai lá!!! Vamos nos responder na varanda!?