quarta-feira, novembro 15

Dormi assim... acordei assim... mas sobrevivi...

(Imagem da constelação de Orion, caaptada pelo Hubble e publicada no álbum do uol)


AUSÊNCIA
Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces;
Porque nada te poder dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida;
E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados.
Para que eu possa levar um gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face.
Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa.
Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
Eu ficarei só como os veleiros no portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.
Vinícius de Moraes
Eu, Márcia, nesta data fui tomada por este dizer...
e aqui estou ante tal necessidade de ceder à contigência da palavra, ainda quando ela existe...
e ainda ressoa do querido poetinha.

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