Esperei muito este dia... Lutei muito por este momento, por esse sabor de lágrima feliz regada a realização do que me fez realmente dormir tarde todos os dias durante 3 meses lutando contra o sono e contra minha cabeça que insistia em remeter-se ao som do meu coração. Era o início de um funeral. Fazia muito frio naquelas noites... As músicas que eu escolhia pra me manterem acordada eram inúteis... Fazia muito silêncio nesta casa... Mas era o início de uma guerra. Eu lutei contra tudo e todos por uma prova. EU fazia tudo. Trabalhava, estudava, e velava noites inteiras a sua morte. Você havia morrido, mas eu não havia te matado... Você havia se feito isto e usou requinte de crueldade. Eu seria forte. Ultrapassaria mais uma "parede" em que me esbarrava pela vida.
Pronto! Passou - pensei.
E vivia agora dias tão felizes, meu Deus! Ninguém o sabe, só Ele! Eram as respostas que eu procurava por estes meses de angústia! Findo o ritual (funerário) no meu feliz ano novo, ao fundo letras de "noites traiçoeiras" que me pediam a "calma" que não tive, ultrapassava ontem de presente mais duas barreiras importantes. As algemas no cordão umbilical (minha mãe aqui) e a vitória mais forte e suada que percorri com fé em Deus. PASSEI na tal prova, apesar dos ritos de dor que me fisgavam a alma naquelas noites de guerra. Agora foram dias cheios de "emoções", como diria minha amiga Jú, típicos no meu calendário. Mas atipicamente me surpreendi sim com a velocidade dos fatos que nem vêm ao caso aqui.
Para brindar os momentos, muitas surpresas... E a MAIOR! Para um bom leitor, um bom escritor basta... Desde que se tenha a PALAVRA, não dita, nem escrita... A sentida no silêncio absoluto que só não é alcançado pelo ser humano porque os batimentos do coração seriam então ouvidos, lembra? Quase tudo sem palavra... enquanto eu a tinha! Quase tudo de olhos fechados, porque nos confiávamos. E tudo perdido na visão do que não vi, mas que só agora vejo que causei. Perdi.
Não sei quanto tempo durará meu luto, mas meu silêncio sei. Porque agora o funeral é do meu próprio corpo, da minha própria alma. Aprendi há muito tempo na vida que quando se morre, se silencia de fato. Não simplesmente porque se priva de palavras, mas porque aí silencia o coração também. Vira silêncio absoluto. Nem ser humano e nem verme faz barulho algum. Então a euforia de ontem (180 batimentos por minuto) precedia a "parada" de hoje e eu não sabia. Não sabia o que fazia. Não sabia que trairia a mim, que morro aqui com a minha palavra. Porque eu sou as minhas palavras. Esta era a minha identidade, minha forma de desafogar TUDO. Escrevo desde que me entendo por gente. Traduzo pensar e sentir nisto aqui. Em palavra, substantivo abstrato que me traiu também. Merecia ser enterrada mesmo pra ser concreto tudo o que disse antes de ontem. Enquanto ela existia SIM. Porque não há tradução pra tudo. Porque antes era sentido mais que dito e continuará sendo no silêncio. Porque traduzo minhas emoções em palavras e nem sempre em atitudes. E foram as palavras que ouvi que te tiraram do túmulo. Não suas atitudes. Mas não insisto. Deixo pra cair na prova dos dias sem sentido que percorrerei mais sozinha ainda, mais especializada ainda, mais triste ainda. E sabe o que me surpreende? Não mais a velocidade dos fatos. A ironia. A sensação de bater no vazio, as lágrimas que gritam por dentro, o vazio de não te amar menos (como no seu funeral). Porque a cada minuto cresce este vazio e a dor pelo que fiz. Porque no vazio de mim, desabitado de você não faz silêncio. E agora deixo de dormir e não é por prova. Estou velando. E este ritual vai durar a minha eternidade.
Adeus à varanda. Aqui me despeço.
Marcelle.