quarta-feira, setembro 26

Sobre SER e TER VERDADE(s)


"Olhe como ele encara a multidão, como ele encara Pialtos. É ele o condenado e no entanto, ele se comporta como um rei, ele não tem mais nada a dizer, ele é o que é. Ele não tem nenhuma verdade a dizer, ele é a Verdade... Felizmente elel não diz o que é a verdade! Poderíamos nos apropriar de suas palavras e poderíamos, então, 'ter' a verdade e desprezar aqueles que não a 'possuem'. Yeshoua não nos dá uma verdade que podemos possuir, ele é o exemplo de uma verdade que devemos ser, mesmo em face da adversidade, da injustiça e da arrogância dos poderosos... Yeshoua não nos dá algo que poderíamos transformar em um ter, um saber ou um poder. Ele nos concede o dom de cada vez mais sermos 'Eu Sou', de crescermos em consciência e em amor... Yeshoua não e uma verdade que temos, mas uma verdade que somos. O Reino do qualnos fala Yeshoua é o mundo daqueles que são a verdade, daqueles que são verdadeiros".


Esta é a fala da Jacó a Judas Iscariotes, o zelota, quando ambos assistindo ao ritual de condenação de Yeshoua (Jesus), Judas amargura o sentimento de ter sido traído por seu mestre, de quem ele tinha uma expectativa de ser um salvador, messias deste mundo. Tal passagem encontra-se no livro de Jean Yves Leloup, Judas e Jesus: Duas faces de uma única revelação.

Judas beijando Jesus (cena do DVD da National Geographic).disponível em:http://www.chamada.com.br/mensagens/beijinho_safado.html

Ler Yves Leloup nesta obra, baseada nos escritos do próprio Judas, no seu evangelho, é um exercício de extrapolar a narrativa histórica e entrar no mundo da psiquê humana, onde encontramos em nós tantos Judas quantos Yeshoua. Mais interessante, neste particular é a dualidade que nos toma entre ser verdadeiro, a opção de Jesus, e ter a verdade como uma arma a modificar o mundo, pressuposto da luta do zelote Iscariotis.

Vale dizer que a busca por ser verdadeiro implica numa conduta ainda tida como herege, nos nossos tempos. E que ter uma Verdade a ser fincada no mundo, traduz-se, ao meu olhar, como um desejo imperialista de se ganhar o mundo pela força, e não pelo amor.

Postado por Márcia,

Após mais uma tormenta na busca por ser verdadeira.


segunda-feira, setembro 24

Sala de aula

Pietà de Miguel Ângelo
(Imagem retirada de kcfac.kilgore.cc.tx.us)
Que seja de encantos o nada
E de contos de fadas
A verdade não dita...
Que venha de ensaios a farsa,
E que de mentiras se entregue
A paz que se acredita...
Que seja de heresia a saga
E que se inunde de fé a estrada
Por tantas vozes preenchida;
Que seja de alívio a dança
Enquanto eu sonho de criança,
Acorrentada a este castigo...
Amém!
Remeteu-me aos tempos de sala de aula em que aprendia nas manhãs daqueles dias as verdades que não preenchem; que não me respondem... Naquelas manhãs alguns me falavam o que me confortava... Hoje anseio pela presença dessas verdades e não as encontro em mim... Mas a fé ainda me move enquanto presencio o que me acalenta e me reconheço na face dos que sofrem por simplesmente CRER em alguma coisa maior que esta que já temos... Por querer o bem e não podermos fazê-lo porque parece não inocente; não isento de dor... Assim seguimos sofrendo o que não atingimos e perseguimos o que não vemos, mas que queremos com toda nossa força, com todo nosso "eu"... Remeteu-me PIETÀ e comungo de sua expressão na perda das forças; na perda da esperança que insisto em afirmar ser - a meu ver - o que rege a humanidade. Os disfarces destas dores se traduzem em mais um pecado originalíssimo: o de negarmo-nos a despeito da dor que podemos causar aos que amamos de fato e em troca desfazermo-nos aos poucos pela ânsia de poupá-los. (E isto não fora ensinado no meu tempo de colégio, pelas manhãs de cantorias). E assim sucumbimos, se preciso o for, mas disfarcemo-nos - nem que seja por amor! Assim seja!
Marcelle.
Um abraço na varanda!

domingo, setembro 23

Heresia da Verdade

(ou para os menos generosos: Amarguras da auto-exigência)







Enfastiada




Inundada até a boca,




cheia d'água!







Os fluxos se invertem




Bebo e não obedeço à lei da gravidade!




Parece que transbordo pelos olhos...




Qual o quê!




é água que jorra de total enfastio




O tédio é de excesso de verdade!




Verdade não generosa do outro que julga




com o olho cego de seu próprio rabo.







Toda verdade é consistente,




e como tal impermeável.




Nos coloca portanto em terreno infértil.







Aprendi que ser humilde é estar no nível do húmus




terra aberta e fértil.




Mas a verdade é rocha dura,




que reflete a luz ofuscante dos que estão acima de...




sem chances!




Não há coração na miséria da implacável verdade.




Seu mundo é sem misericórdia!




É disso que careço nas nossas postulações verdadeiras.




Não me refiro à qualquer verdade.




Mas aquela abjeta,




interdito posto entre pessoas,




cujo dito escalona olhares que tudo pretendem sobre mundos sem alcance,




mas ambcionadas pelo colonizador.

Num sutil deslize, entregamos,

pela tirania da verdade, tais íntimos territórios.




Esta verdade que




transita da ilusão da pureza pueril à arrogância tirânica

dos seus portadores.




Os postulantes se fazem puros pela verdade de suas prolatações!




É da verdade dos sepulcros caiados,




da condenação de Madalena,

a verdade que me oprime.





Foto tirada da Marcha do Imperador... quanta sabedoria a dos pingüins!
Postado por Márcia

Reafirmando as bases desta varanda!


Putz!
Que saudade da varanda!
Estou de volta... e feliz por isto!
A sensação é de dançar na chuva...
No espaço espaço do degredo.
Degredo dos que querem ver o mar!



Imagem disponível em store-intergaleria.locasite.com.br

(Des) Abafo

Ensurdeço de não falar
É um silêncio
sendo do que não digo.
Não digo por não ter o que dizer.
Dizer o injustificável na impotência.
A impotência é muda
Tem língua,
Mas, língua sem cordas
Língua sem som
Língua sem acorde
Língua sem coração
É língua sem ação
Inércia do coração
Sem corda,
se faz silêncio
Um grito pelo avesso
ao invés dos tímpanos
dói o estômago.
Grito fatalmente convertido
em merda travada.
As palavras se foram,
então,
ralo abaixo
Me deixaram em seu lugar
um preenchimento de vazio indecifrável
Viver é abafar a dor...
Escrito por mim, Márcia, em algum dia de maio de 2007. Postado hoje, após a lembrança que a varanda é lugar dos degredados, e também após ter lido Rubem Alves e Yves Leloup, heréticos assumidos, que me convenceram que Deus só se manifesta em ausências. Sintindo-me abençoada, posto também a imagem de um ser em extinção recebendo os cuidados em sua fragialidade. Foto retirada de http://bichos.uol.com.br/album/zoozoom345_21092007_album.jhtm?abrefoto=10


segunda-feira, setembro 17

Lamento...




Forjada que fosse a graça,


Secreta seguisse a chama,


Solene disfarce no passo,


Pequeno impasse em drama.



Pacata que fosse a lágrima,


Distante que fora a gana,


Aos olhos que se transpasse


O impasse que se derrama.



Pois dada que seja a farsa,


Ofegante que se faça o pranto


Dos olhos que jorram água


Do nada de meus enganos.



Do nada dos desencantos,


Do fardo de meus tormentos,


Dos atos de meus espantos,


Das lágrimas que eu lamento.



Lamento, se por acaso,


Os rastros já não compensam,


Se as lágrimas que já se arrastam


Disparam, disfarçam e lamentam...



(Marcelle 1997)












DIRETO DO ESCONDERIJO ENTRE AS MONTANHAS ÀS PÁGINAS SEGUINTES - AVANTE!





Dez anos se passaram e minha história fui escrevendo de trás pra frente... O que fazer se o que tenho a trazer são estes escritos? O que escrever pra mudar o final da história? Cabe a mim? Às vezes prefiro entregar canetas à espera que escrevam comigo... Mas poucos o sabem fazer de fato... E os que escreveram parecem não alcançar-me mais. Registro, hoje, isto aqui na expectativa de que nos próximos dez anos não me reste tão pouco como agora: o extremo vazio das páginas relidas e sem final feliz... Porque apesar de ser feliz, gostaria de pintar outras cores nas próximas páginas como se esperasse então que alguém me aparecesse com um novo "jogo" de canetas e me surpreendesse a rabiscar desenhos ao invés de poesias pra contrariar meus sonhos e invadir-me de paz, porque "a paz que procuro" não se escreve..., nem se visita em cenários, mas na musicalidade das diferentes notas a compor uma única melodia... Na singularidade das almas calejadas e na diversidade das mãos unidas... Na sensibilidade com que se lê o que ninguém escreve e se interpreta o que ninguém disse, porque a linguagem dos anjos se compõe de gestos e não de verdades, assim como a graça da bailarina se traduz nos movimentos e não na coleção das dores musculares... Não! Eu não esperava que fosse renascer sem dor, nem ter chegado ao fim da corda bamba... Aceitei o desafio de recriar novos mundos sim, mas implorava por trégua... Lamento as rasteiras, mas não vou rastejar novamente só pra não sentí-las porque prometi-me ainda perder o fôlego muitas vezes e amar é quase uma necessidade minha... E o que tiraram de mim, não roubarei de ninguém porque a moeda de troca simplesmente não é troco que se mereça... Por hora, lamento! Lamento a frustração das páginas que relerei sem títulos, assim como tudo foi ficando sem sujeito... Lamento a história mais desrimada e a saga que me persegue - parece-me que escrita previamente por mim mesma! Mas despeço-me de cabeça erguida, certa de que "amor a se fazer é tão prazer que é como se fosse dor..." - já diria Elis Regina.

E que me encontrem no caminho muitas cores novas, muitas canetas cheias de sonhos, muitos arco-íris a seguir, porque definitivamente a luz que tínhamos era minha e foi ofuscada demais...

- Agora, por hora, ainda lamento!


Texto nascido em 26 de agosto de 2007 - Teresópolis-



entitulado Libertação -









Marcelle



Imagem retirada de www.john-howe.com/portfolio/gallery/data/medi

sábado, setembro 1

Para falar o que realmente importa...


O GLOBO, 31.08.2007

Elefante viciado em heroína é desintoxicado na China

PEQUIM. Um elefante viciado em heroína por tratadores ilegais será devolvido ao seu habitat em breve, após ter passado por um tratamento de desintoxicação, à base de abstinência. Big Brother vivia com sua manada na fronteira entre China e Mianmar, na província de Yunnan, quando foi capturado por traficantes de animais em 2005, revelou o ontem o jornal “China Daily”.

“Para controlar o animal de modo que ele guiasse a manada para onde eles queriam, o traficantes o alimentaram com bananas recheadas com drogas”, disse o jornal. Os bandidos, graças a uma denúncia, foram presos em flagrante, tentando vender Big Brother e sua manada. Mas, àquela altura, o elefante já havia desenvolvido dependência por heroína, ameaçando as pessoas que se recusassem a alimentá-lo com o produto, disse o jornal, citando fontes da polícia chinesa.

Big Brother teve que ser transportado para um centro especial, na província de Hainan, para tratamento de desintoxicação.

O animal resistiu e até arrebentou uma corrente de ferro, disse o “China Daily”. Ele foi tratado durante um ano, até ser considerado reabilitado e pronto para ser devolvido a seu habitat natural.

Na Índia, animal rapta aliá de circo

NOVA DÉLHI. Já o jornal de “Times of India”, de Nova Délhi, revelou na quarta-feira que um elefante solitário invadiu o estábulo atrás de uma aliá, na cidade de Raniganj, no estado de Bengala. O animal derrubou as frágeis paredes do estábulo e se apaixonou por uma das quatro fêmeas do circo, Savitri, que acabou fugindo com ele. O jornal disse ainda que outra aliá, muito próxima de Savitri, caiu em depressão com a fuga da companheira.


Foto retirada de http://www.blogoteca.com/orefraneiro/index.php?mes=5&ano=2006. No blog não há a origem da fotografia, porém sei que na Indonésia foram construídos banheiros públicos para os elefantes, diante da ameaça de extinção frente o crescimento da indústria do turismo. Postado por Márcia