quinta-feira, janeiro 25

Saudade!!!


"Mais que amigo, mais que irmão, a metade de mim que existe em você e a metade de você que habita em mim... Um TXAI seria capaz de dar sua vida no lugar do outro se necessário fosse!"
Palavras de interpretação do Milton Nascimento
Imagem retirada de: info.hmv.co.jp (que também consta no seu CD)
Saudades de você na varanda, TXAI!!!

Não digas nada...



Não digas nada!



Nem mesmo a verdade



Há tanta suavidade em nada se dizer



E tudo se entender



- Tudo metade



De sentir e de ver...



Não digas nada



Deixa esquecer



Talvez que amanhã



Em outra paisagem



Digas que foi vã



Toda essa viagem



Até onde quis



Ser quem me agrada...



Mas ali fui feliz



Não digas nada.




(Fernando Pessoa)

Medos


Dos medos

nascem as coragens

e das dúvidas

as certezas.

Os sonhos anunciam

outra realidade possível

e os delírios, outra razão.

Afinal de contas,

somos o que fazemos

para mudar o que somos.

Eduardo Galeano
Imagem retirada de www.centrodeterapias.com.br

segunda-feira, janeiro 15

Gravidade






Desce a noite, foge o tempo...

Na ausência de luz, meu sono pára,

Ali descendo, afogo meu desalento...


Descem os ponteiros e o tempo não passa,

Aqui fecho os olhos pra ver se esqueço,

Mas procuro são os seus pela madrugada...


Aí os abro correndo e sim: - estremeço,

Ainda ouço sua voz, sinto seus passos,

Pela noite de ontem eu perdia o começo,

Agora imponho o fim: nó firme que desato.


E desce a chuva, e permaneço seca,

Não sigo seus passos pela enxurrada,

Elevo meus olhos diante sua beleza

Mas o que vi naquele dia foi minha face espelhada...

Água desce e corre; eu que fico e desconheço

Qualquer pesar por minha chegada...

Desce a lua levando em breve este segredo

E apagam-se em mim os sons de suas risadas...


E passa o tempo e desce o medo

Que dentro de mim esteve entrevado,

E desço a serra e deixo o beijo

Que não pude te dar e minha boca amarga...


Descem as pálpebras, perco as lágrimas,

Afogo os lábios para que eu padeça,

Empurro as mágoas, procuro uma escada,

A noite é fria e estática permaneço;


E desce o corpo estraçalhado pela estrada,

E não vejo nada neste mero arremeço,

Não sinto mais frio, nem vejo tantas águas,

Que meus olhos desperdiçam e que me lançam do avesso...


Desce a alma como sendo depenada

E deixa ali as asas como sinal de apreço,

E reinventa-se uma canção dessas desenterradas,

Pra caber de distração no ato em que te esqueço,


E já desce o sol e o vento não passa,
Ele apressa meus passos, aperta meu peito,

Cachoeira de sonhos no barulho das águas,

Silencia minha dor como forma de respeito...


E atravanco o nado até que a correnteza leve

O suor de meu rosto, as forças de minhas mãos,

Até que devolva meu sossego nesta prece

E até que eu conceba seu adeus, seu perdão...


E as pedras me batem nas águas que descem

Já não sou mais eu, sem você...

O desespero some, a alma agradece

Não vejo mais água, vejo nada, nem por quê...


- Parti!
Marcelle
(Imagens retiradas dos sites: www.cameraviajante.com.br e loucuraenata.weblog.com.pt)

sábado, janeiro 13

Restos de mim



Quando talvez esta dor tamanha

Despejar-se como óleo por este chão

E se estes olhos de lágrimas se fecharem

E estes sonhos debulharem-se em ação,


Quando então esta história desrimada

Encontrar graça, sentido, razão

E as horas de sofrimento esgotadas

Devolverem-se em tempo, em forma de perdão...


Quando por ventura este grito já cansado

Alcançar alguém disponível pela imensidão

Ou de tão forte, seja este verbo calado

Ou entoado de réplicas em meu coração...


Quando não tarde o talvez não for dúvida,

Nem atalho, nem fuga pela dura jornada,

Ou seja o meu pranto o recanto já frio

E esta solidão restante, quase nada...


Que seja esta fé, esta força, desafio

Minha razão mais duradoura e festejada,

Seja este chão um suave caminho,

Quando talvez nem reste mais frio, solidão: reste nada.

(Marcelle - 1999)
Imagem retirada do site: www.larazon.es

quarta-feira, janeiro 10

Sobre a solidão...


"Quanta verdade você suporta?
Às vezes penso que sou a pessoa mais solitária do mundo. A minha solidão não depende da presença ou ausência de pessoas, pelo contrário, odeio quem me rouba a solidão sem em troca me oferecer verdadeira companhia!
(Nietzsche)

(Imagem extraída do álbum uol. Cobra Pínton/Malásia - com uma ovelha sendo digerida)

Postado por Márcia

terça-feira, janeiro 9

Minha janela para o mundo



Poema e insônia,

Este par que vez em sempre

Resolve marcar um encontro

Em meu corpo.



Despido, nu, e ainda não se viu

Embora com quase quarenta.

De novo neste degredo

Que busco para me encontrar

Em busca da criança que quero deixar-me ser.

Chamo Adélia, a Prado

E imploro que ela me ensine a soltar meus cães;

Mas não há cachorros, nem nada tão grande,

Há sapos, salamandras,

Anfíbios, plenos para água,

E inteiros para a terra.

Desejo as asas,

Mas as asas, quem me empresta

É a poesia.

É Vinícius quem as têm.

Que como ninguém,

Soube ser criança

Na medida em que crescia;

Quero poesia,

Poesia que acalanta

Que me traz de volta ao corpo

Este que nem me cabe,

Mas de novo me traz

Simplesmente por reverberar,

Estremecer o espírito.

E o verbo se faz carne.

Quero poesia,

É nela que deserto o haver

O haver que me nina

O haver que me encoraja;

O haver e o simplesmente ser.

(Márcia, insone...)

O haver


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura

Essa intimidade perfeita com o silêncio

Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo

– Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo

Essa mão que tateia antes de ter, esse medo

De ferir tocando, essa forte mão de homem

Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos

Essa inércia cada vez maior diante do Infinito

Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível

Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento

Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade

Do tempo, essa lenta decomposição poética

Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio

Numa catedral em ruínas, essa tristeza

Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria

Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza

Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido

Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa

Piedade de si mesmo e de sua força inútil.

Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado

De pequenos absurdos, essa capacidade

De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil

E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza

De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser

E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa

Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar

De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade

De aceitá-la tal como é, e essa visão

Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior

De mundos inexistentes, e esse heroísmo

Estático, e essa pequenina luz indecifrável

A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos

De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória

Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade

De não querer ser príncipe senão do seu reino.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade

Pelo momento a vir, quando, apressada

Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante

Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...

Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto

Esse eterno levantar-se depois de cada queda

Essa busca de equilíbrio no fio da navalha

Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo

Infantil de ter pequenas coragens.


in "Poesia completa e prosa: "Poesias coligidas", Vinícius de Moraes

Márcia, com saudades do que eu ainda não vivi.



segunda-feira, janeiro 8

Sobre a corda bamba...




(...Eita ventinho bão na varanda,
sô!
Duas comadres, falando da vida,
na vida, na varanda...
hehehehehe.
É que na corda bamba da vida,
só sente a delícia do bônus,
quem assume o ônus.
O seu texto, Marcelle, é
"sem anestesia",
a intervenção cirúrgica
que
todos
passam
quando,
na vida,
se lançam a projetos sérios...
Eita ventinho
bão...)
ÔNUS
A esperança me chama,
e eu salto a bordo
como se fosse a primeira viagem.
Se não conheço os mapas,
escolho o imprevisto:
qualquer sinal é um bom presságio.
Seja como for, eu vou,
pois quase sempre acredito:
ando de olhos fechados
feito criança brincando de cega.
Mais de uma vez saio ferida
ou quase afogada,
mas não desisto.
A dor eventual é o preço da vida:
passagem, seguro e pedágio.
Lia Luft
Postado por Márcia

sexta-feira, janeiro 5

Paródia 360 graus



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Senhoras e Senhores


Para 2007, não obstante uma baita incoerência incruenta, crível e visível, se eu fosse fazer uma declaração de votos, eu diria:


- Usem filtro solar! Destes mesmos, das prateleiras!


Na verdade, sou frequentemente tomada por uma vontade frenética de falar e escrever sobre bens e filtros fora do mercado. Não resistindo este ímpeto maior que minha enorme vontade de ser e estar congruente, lá vai!


Usem filtro de pessoas. Amigos e amigas não são produto apenas de convivência. Este filtro nos ajuda a entender a relatividade das distâncias quilométricas e cronológicas.


Usem um eficaz coador de crenças. Não acreditem em tudo. Aperfeiçoe seu discernimento. Isto não é ser desconfiado.


Coem ordens, recomendações, necessidades e demandas. A obediência é um valor, mas jamais se deixem cegos.


Purifiquem suas emoções. Aborreçam-se menos. Emoções não filtradas evitam tumores no corpo e no pensamento.


Filtrem invejas, mas não se esqueçam que, grande parte do reconhecimento que fazemos do mundo, o fazemos a partir do que somos.


Selecionem as dores que tomam vocês inesperadamente. Sofram apenas pelo que vale a pena. Se for inevitável sofrer, que a dor não traga amargura, mas sabedoria.


Usem a peneira dos atos rotineiros, e deixe que vaze nela o pó da criatividade que faz brilhar nossos dias tão iguais!


Peneirem a incompetência alheia. Não deixem que esta atinja vocês. Porém, saibam que o melhor antídoto de combate a este mal é a luta contra as nossas próprias ignorâncias.


Retenha, embargue mesmo, toda forma de excesso, inclusive o excesso de zelo, de higiene, de palavras, de trabalho, de pudor, de gentileza e de alegria. O excesso é perverso sempre, até mesmo em qualidades que nos realizam e preservam, pois ele é a diferença entre a cura e o envenenamento. (Já sabiam os chineses, há muito, que a diferença entre o remédio e o veneno é a quantidade) Até a gentileza excessiva passa a ser demonstração de invariabilidade, ou seja, de que o mundo do lado de fora não é efetivamente vivido.


Só deixem passar na peneira o que não for grosseiro. O tosco nos leva às arraias da banalidade.


Filtrem também os pensamentos. F. Pessoa já dizia que “o pensamento é o adoecimento dos olhos”.


Coem as inutilidades das utilidades. Separem-nas, mas reconheça que ambos nos apraziam.


Por fim, filtrem as minhas palavras; é bom que saibam que ela é fruto de nostalgia.


Agora, por uma questão de uniformidade no procedimento, eu diria qual é a peneira que faz isto tudo que não se vende, mas que todos desejamos. A peneira é a lucidez, esta que todos somos portadores, mas que, porém, é constantemente arrombada pelas nossas paixões insanas, que aquecem o desejo que cega como um sol, que nos arde de tal forma, que é melhor que

- Usem filtro (deste) solar.
Márcia

quinta-feira, janeiro 4

NA CORDA BAMBA

A revista “Ser médico” da Cremesp – Conselho Regional de Medicina da cidade de SP – publicou no mês de dezembro a matéria “Deixar de ser médica” em que fala da jovem Haná, renomada acadêmica e residente da USP e posteriormente psiquiatra (com consultório montado) que desiste da medicina e a abandona para ser feliz. Inicia um curso de ciências da arte ainda médica do qual se afasta por não haver tempo para mais estudo, abandona a medicina e segue como documentarista para ter mais tempo de VIDA !



Redescobrindo Elis Regina declaro:

“Como se fora brincadeira de rodas”, ou história de ninar destas descabidas para crianças de 2 ou 3 anos, pra não dizer piada de péssimo gosto, retorno da caçada ainda com fome; - assustada e fugitiva daquele tigre imenso. Sim, como haveria de ser: chorosa, sedenta, faminta, medrosa! – Retornarei àquele lugar ou morrerei aqui de fome?

“O jogo do trabalho na dança das mãos vazias” é desalento; ameaça mais que o tigre... por maior que parecesse ser a fome dele. Porque “o suor dos corpos” no “suor da vida” se faz valer na diferença entre fuga e luta. Assim nos distinguimos entre nós. A honra está no caminho escolhido e no foco de interpretação.

Quando me aventurei era assim: “o animal que sabia da floresta” mas que se engana e se fere... E “redescobre o sal que está na própria pele” no próprio sangue que escorre e que bebeu pra tentar se reerguer. (O “lamber das línguas” é que ficou na memória, apenas... e “na magia das festas” que perdi!).

“Renascer da própria força” é bonito; da “própria luz” é ironia; da “própria fé” é ilusório! “Tudo principia na própria pessoa” quando constatamos que estamos num circo e que ter esperanças é ser palhaço. Performance é a palavra. Esforço é parto para se renascer “criança que não teme o tempo”, mas urge na experiência da libertação!

Mas ironicamente “tudo principia na própria pessoa”; talvez na própria floresta, talvez no reencontro com o mesmo tigre, na réplica da mesma luta de que fugi um dia, no “suor dos corpos na canção da vida” e no “suor da vida no calor de irmãos” em que a interpretação estará entre fugir e lutar, na empreitada abraçada antes e definidora de que “amor a se fazer é tão prazer que é como fosse dor”. (E dor sem anestesia). Renascer da própria fé ? - só no AMOR!

Parabenizo Haná pela coragem, mas prefiro antes tentar reinventar esta história, como que em brincadeira de roda, trocando as mãos seguradas, entoando outra cantiga, retocando a tal floresta... Insistir é a minha vitória. Ter esperanças é passado. Performance é a palavra. O parto há de acontecer – e sem anestesia.

Marcelle (Dez 06/Jan 07)

(Imagens retiradas dos sites: www.duiops.net e www.relatsencatala.com)

segunda-feira, janeiro 1

Brincar de Viver


Saudando 2007 em paz!
Que esta eterna brincadeira,
nos faça sempre crianças!

Brincar de Viver
Guilherme Arantes

Quem me chamou

Não vai querer voltar pro ninho

E redescobrir seu lugar

Pra retornar

E enfrentar o dia-a-dia

Reaprender a sonhar

Você verá que é mesmo assim, que a história não

tem fim

Continua sempre que você responde sim à sua

imaginação

A arte de sorrir cada vez que o mundo diz não

Você verá que a emoção começa agora

Agora é brincar de viver

E não esquecer, ninguém é o centro do universo

Que assim é maior o prazer

E eu desejo amar todos que eu cruzar pelo

meu caminho

Como eu sou feliz, eu quero ver feliz

Quem andar comigo

Vem !

Esta postagem tem o sabor especial de estarmos na varanda no mesmo lado da tela! Amém!