sábado, abril 27

Eu que não sei quase nada do mar...

                                            Serra dos Órgãos. E o pedido que olhemos avante!



“Eu que não sei quase nada do mar
Descobri que não sei nada de mim...

Clara, noite rara, nos levando além
da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos
na escuridão.”
(Ana Carolina).

 

Uau!

Estou ofegante após pedalar com você, Márcia. Talvez pelo entardecer da madrugada, e a fonte pequena que escolheu me chamando de velha...
 
De certo, a distinção corpo-mente tem sido meu foco perseguido nos últimos anos, mas os fragmentos distantes o berço para meu próprio perdoar-me. Ou a desculpa mais tola para não enfrentar-me. Ou a pequenez (diante do mar) necessária para verificar-me frágil.
L. da Vinci fala do homem-lagarto que nós trabalhadores-surfistas, penosos pelo dignificar o próprio pão (isso vem da Bíblia ou mais uma lorota ocidental?) sonhamos com a aposentadoria, com o gozar de afazeres voluntários e prazerosos – comer, rir, dormir, gemer, defecar. E nem sabemos se teremos nossas funções orgânicas prontas a isto como agora, em que produzimos para outros desfrutarem deste simples paraíso - apenas!
Shakespeare ousa revelar-nos como divinos – sei – no âmbito espiritual da coisa, e blasfema na conclusão. Como animais, melhor não sermos nem classificados, né? (Bancarota red).
Então vou eu “remexer na inquisição”: se assumirmos felizes (sem maiores ambições) convivermos e vivermos em paz no animalesco mundo de L. Da Vinci, e ocuparmo-nos nos intervalos à prática shakespeariana, talvez parecêssemos com o que a Criação idealizou para nós. Com o espírito santo, ao pé da letra, e como Jesus nos ensinou em seu exemplo – como humano, animal, Deus que é.
Talvez o redimensionar a vida fosse viável e a integridade corpo-mente fosse mais NATURAL. E os fragmentos distantes fossem 2 pontos de um linha reta (e não labiríntica) para nossa evolução simplesmente. Daí renasceríamos, sim... Após concluído o caminho. (imagem: Dedo de Deus). 
Mas o que temos são paradoxos e somos interrompidos de decifrá-los no meio do caminho. Injustamente (imposto por nossa opção ou não), somos postos a pensar como animais ferozes em sua própria raça, somos obrigados a comer e produzir estrumes sem lhes saber o destimo. Sem lhes reconhecer na própria grandiosidade, na falta de tempo (!!!) ditada pelo sistema, pelo capitalismo, pela ingovernância da massa (Vide Thrive moviment). E só enxergamo-na quando a energia vital se exaure e a saúde se vai (nesses estrumes inorgânicos).
Proponho agradecermos não o pão de cada dia, sovado de malabarismos anti-naturais, mas rezarmos para que ao ligarem-se os 2 pontos previamente propostos por nós antes mesmo de nascermos, ainda saibamos como fazer  tais pães  transformarem-se num bando de dejetos, se e somente se, enquanto isto, formos “admiráveis como um anjo” e um exemplo de homens (não animais) para Deus!

Sigamos! A evolução é nossa única missão!
 
Postado por Marcelle Sá - 27/04/13.
                                            Na saudade... Nasci no mar...

sexta-feira, abril 26

O Inusitado (1)

Este texto nasce numerado por uma razão já determinada: volto à varanda com alguns casos que tem me tomado por dias, em reflexão e em vivência. Se fosse mineira, poderia dizer que tenho sido mobilizada por "causos", histórias cotidianas que me inspiram aprendizagem, tanto pela origem (sempre vem de onde menos espero), quanto pelo exercício do "manter a mente aberta", tão caro para mim em tempos de fundamentalismos de toda sorte!

A última por mim deliciada foi assistindo ao Domingão do Faustão (programa que sempre mantive zilhões de reservas) numa entrevista feita a Luana Piovani (pessoa cuja referência pública até então havia chegado a mim somente pelos "barracos" nas relações amorosas). Digo isto para reforçar a ideia de que tratava-se de um momento de expectativa zero (e aqui tenho que abrir outros parênteses para reforçar a ocorrência da nulidade da expectativa quando sou tocada por palavras e inseminam ideias).

Não sei bem ao certo qual era o rumo da entrevista, quando a entrevistada falava do que tem aprendido com seu novo amor, um surfista, e deste eu nada sabia até então. Luana Piovani registrava seu aprendizado de pequenez humana, que para ela e seu parceiro, vem do surf, em contato com a imensidão do mar... nas palavras dela, o humano ganha uma dimensão de pequenez nas gigantes ondas,  que há de ser transportada para tudo que se faz.
 
Achei muito bacana esta proposta de transporte para as experiências corriqueiras, que nos tiram da centralidade do cosmo, e nos redimensiona em nossa grandeza.
Passei os últimos anos em um lugar típico de aprendizagem: sobre bancos escolares para realizar o sonho da Geografia. Neste curso, pude, com mais maturidade, refletir sobre o papel histórico antropocentrismo na minha experiência de vida.
 
É notória a ligação entre este sentimento de centralidade humana e da  híper dimensão do ego nas discussões sobre a vida em sociedade. O triste é que esta centralidade é capaz de produzir uma ética de soberba, de arrogância, e também de preguiça e de grandeza profundamente equivocada.
 
Uma das formas de ocorrência do equívoco é a crença e a luta pelas grandes rupturas, em outras palavras, pelas revoluções.
Como grande mudança, o ator a implementá-la só poderia ser o humano.
Para se chegar a esta grandeza, o quando de desprezo pelo pequeno se fez e se faz... à exemplo do texto que se segue:

“Vede aqueles que podem ser chamados
Simples condutores de comida,
Produtores de estrume, enchedores de latrinas,
Pois deles nada mais se vê no mundo
Nem qualquer virtude se observa no seu trabalho,
Nada deles restando além de latrinas cheias”

Leonardo da Vinci

Se ações tão necessárias, com produzir comida e dar destino aos resíduos, são desprezíveis, restaria então perguntar: quem serão os grandes homens, aqueles que ficarão na centralidade? E por que estes serão os grandes?
De outra sorte, quem serão os que se prestam apenas a encher latrinas, a fazerem de sua vida apenas uma carga de merda? E por que este destino é dado a eles?
 
Ainda é muito triste para mim ver que a ambição dos grandes projetos estão eticamente vinculadas às mesmas crenças de Leonardo da Vinci, ou mesmo de W. Shakespeare:

“Que obra de arte é o homem: tão nobre no raciocínio; tão vário na capacidade; em forma e movimento, tão preciso e admirável, na ação é como um anjo; no entendimento é como um Deus; a beleza do mundo, o exemplo dos animais.”
Hamlet, William Shakespeare
 
 
Sei do risco de privilegiar uma citação de Luana Piovani, em entrevista no Domingão do Faustão, preterindo a grandeza humana preconizada por da Vinci e por Shakespeare. Mas é o que tenho para hoje! Minha pequenez tem mais a me ensinar que minha grandeza, como projeto de pessoa e de cidadã que me faço já há tempos. Afinal, não exatamente no surf, mas no pedal, no corpo em movimento, venho experimentando os efeitos éticos do redimensionar a vida, a minha vida em primeiro lugar, e as relações que teço no cotidiano. E só assim é que o inconveniente de uma mente que não obedece o corpo, e vice-versa, vem desaparecendo dos meus dias. Que saia de mim todo antropocentrismo plantado pela cultura ocidental para que eu seja, sem distinção, corpo-mente, e não mais fragmentos distantes. Paradoxalmente isto tem sido para mim revolucionário!
 
 
Postado por Márcia
 
 

 

segunda-feira, abril 22

Voltei!

Em busca de dizer o não dito,
De cutucar a solidão que aceitei,
De me ver nas palavras que nego,
De refazer o sentido dado.
Habitando a varanda,
Lugar da casa que tanto prezo,
Interstício entre a rua a intimidade:
Voltei...

Para brindar este momento e propor que repensemos nossos egoísmos, um pouco da sensibilidade de Manoel de Barros:


Teorema da Incompletude



A maior riqueza do homem
é a sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como
sou - eu não aceito.
Não aguento ser apenas um
sujeito que abre
portas, que puxa válvulas,
que olha o relógio, que
compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai
Mas eu preciso ser Outros.
Eu penso renovar o homem
usando borboletas. 



Postado por Márcia.


segunda-feira, março 11

Filhos, por quê não tê-los?

          Andei atormentada por tantos anos... Contorci-me sim. Menti pra você e pra mim porque na verdade já me descabelei um dia, já me afoguei, já me esfaqueei. E por fim te abortei! E isto sangrou muito... Mas não te concebi nem conceberei...
          Não mais sangra... Não sangrará você jamais!
          A constatação que me abrilhantou veio em 2011 e ecoa em cada crise existencial que encaro quanto a constante pergunta interior: - Terei um filho? E isto veio de lábios que respeito muito, por tudo que já ouvi deles... 
          Diante de atribulações cotidianas, cercada por um medo doentio de perder ou ver sofrer alguém que amo, perguntei com todas as letras a uma amiga cuja amizade nasceu em ambiente hospitalar: - Sou egoísta?
          E ouvi: " Olha, considerando tudo que ouvi você contando sobre sua vida, segundo seu prisma, mas sobre tudo que cerca seu ambiente familiar e tantas outras questões que presenciei, acho que se você não fosse egoísta, não teria chegado onde chegou. Cercada por tantos que não lhe dedicaram os olhos e os cuidados, sobrou apenas esta opção para migrar dos mundos que você habitou e não suportou. O seu egoísmo foi na real dimensão em que percebeu: se eu não fizer por mim, ninguém fará. Mas para isto precisou ausentar-se dos outros e se dedicar muito, estar voltada para si e por que não?"
           Ao acaso e com frequência me vejo por vezes com olhos pendentes sobre as televisões ligadas em noticiários fúnebres. Não choro porque nem sequer presto-lhes a atenção. Divago entre a maravilha da televisão desligada (como se assim ela estivesse) e meus pensamentos: - Arrependerei-me por não ter um filho? 
            Isto tem me intrigado porque em circunstâncias atuais vendem a ideia de que sou feliz somente se puder conceber e sou um monstro por desperdiçar esta verdadeira irreconhecível sacrificante e santa dádiva. Haja vista, para tanto absurdo, observa-se o número de clínicas de fertilização, espermas congelados, óvulos cultivados e mumificados em "bancos sagrados". Sinto que para muitos irmãos a vida se resume a isto: propagar meus genes e rir-me da forma natural e aleatória em que isto se transformou. Assina-se aí a realização do avesso à possibilidade de solidão. Cuidado eterno. Reconhecer-se nos olhos de outrem que pemitir-se criar. Não sei.
             Sou jovem, saudável, poderia procriar ou "comprar" espermas dos deuses gregos que se combinassem aos meus para gerar um ser simplesmente amável, mas seria outra pessoa em meu lugar, não eu!
             Poderia me trancar em casa para não ser reconhecida grávida ou em remota possibilidade poderia aceitar meu útero gravídico e desfilar entre os meus mundos, mas não me reconheço nisto!
             Chego à conclusão de que não necessito jogar na loteria casual dos complexos animados para receber algo que não conheço (ou conheço muito bem) e apostar ali as certezas de final feliz. Não dou nada disto aos que me geraram! Não posso fazê-lo. 
             Não quero viver outras vidas senão a minha, não estou disposta - talvez de forma bem egoísta, mas sim, peculiar. Não quero ver a possibilidade de tanta expectativa ou tanta graça me rejeitar ou ser rejeitada pelo mundo se o faz dentro de uma reportagem tosca como "Cachinhos de ouro e o jet ski!". Não seria justo comigo... Não seria eu... Por hora!
             Pode ser que eu mude de idéia à tempo de gerar mas teria aí nascido outrem de um clone meu...
             Sou egoísta demais para permitir-me amar tanto o que não conheço, conhecer demais outro ser humano, reconhecer-lhe seus motivos, culpar-me e doar-me. Sou tão grande que não tenho dado conta de mim! Prefiro olhar por sobre a televisão e decifrar-me por dentro. NÃO ME DECIFRARAM COMO EU O FARIA...
             E para terminar, dando a César o que é de César, do "laboratório" inverso ao qual pertenço hoje, a análise mais triste que faço é que os que mais critico estavam certos em suas fórmulas brutas. Estamos aqui, resistindo bem a este mundo ridículo, quatro irmãos diferentes e iguais...
            Resumindo:
            - EU PRECISARIA ERRAR MUITO PARA QUE DESSE CERTO... Não me permito. Não tenho coragem. Não saberia. Cometerei e assumirei as consequências em mim, sozinha como egoísta que o sou, de não gerar e não procriar para não deixar nascer. Para não fazer doer tanto. Para eles persistirem apesar e sobre mim. Desculpe. Te matarei por amor sempre que pensar em tê-lo. Mas não vejo sentido, meu filho!


Postado por Marcelle Sá - 10/03/2013 e escrito em 2011.

quinta-feira, fevereiro 16

EU E O TEMPO


(saudade de você, vó...)
Em essência que era,
Era o barro
Em vida que explodia,
Era a farsa.
Em saúde que exauria,
era tarde;
Em desejo que descia,
Era a vida.
Em cimento que cedia,
Era a raiva.
Movimento que doía,
Era parte
De nós que se fundia,
Era tarde;
E partida de te ver
Que ardia.
Era carvão, era inverno
Na cidade.
Era show, era mistério,
Poesia!
Era sol, era nada,
Era metade.
Era som, era mar,
Melodia...
Era...
Nasceu...
Eternidade...
Profecia!
Marcelle Sá - fevereiro 2012
EU E O TEMPO
"Eu na trilha incerta dos meus passos,
Mergulhado no destino imenso dos meus sonhos,
Vou percorrendo as estradas do mundo deitando
a toalha branca sobre os altares da humanidade,
E retirando do horizonte profundo da vida,
A matéria prima que será sacralizada,
Ele, o tempo e os seus movimento de suas cirandas,
Vida que se reveste de cores e estações litúrgicas,
Que nos convidam a celebrar o específico de cada motivo,
Tempo de preparo, de colheita, vida comum,
Sopro do espírito, templo de ressuscitar,
Eu Sacerdote das divinas causas,
Ele Sacerdote das humanas razões,
Quando com ele não posso, faço acordo,
Sorrio com os motivos de suas alegrias,
E poetizo as tristezas,
Que de suas mãos se desprendem,
Mas quando com ele posso,
Ah, quando com ele posso,
Eu dele me esqueço,
E VIVO!"
Padre Fábio de Mello

quinta-feira, fevereiro 2

Passei pelo destino pela porta daqui,
Caí de dentro de um sonho,
Pulei do ciclo medonho,
escorreguei e fugi...

Passei pelo desvio da estrada estranha,
Pulei os trilhos do trem,
Caí pelos becos do além,
Driblei e desisti.

Passei pelo plantio dos meus canaviais,
Torci-me entre os males do tempo,
Enxuguei-me entre lágrimas e contento,
Me molhei, quis tossir.

Mas nunca voltar!


De volta a varanda, trouxe a brisa do Ibirapuera. Era cedo, ou tarde, não dormi direito, mas me embrenhei e conheci caminhos novos - amiga de grande porte me guiava...
Já havia decidido voltar e não sabia por onde começar. Faltava uma senha, um sopro, uma imagem, um anjo talvez...
Tenho muito a dividir aqui. Trata-se de uma nova passagem, do mesmo lugar que vos fala, da mesma garganta engasgada precisando urrar ao mundo - agora de dedos trêmulos por não saber mais escrever direito, como vêem. Mas o mico está na cabeça de quem se sente nele - ouvi ainda hoje. Melhor não ter medo de arriscar. Os dedos assim como as pernas, os braços, o abdome... podem treinar-se novamente a abafar o cérebro (?) agora mais cansado e o coração pleno que moldei.
Sim, estou viva!
Aos antigos leitores da varanda, poesia só para correr riscos de suas críticas... Mas tenho um monte de verdades a seres ditas entrellinhas de entre as linhas de meu rosto. Sim, envelheci. Mas não totalmente. Talvez o que eu proponha seja ser lida por olhos também mais amadurecidos e isto talvez (torço para que não) requeira menos beleza. Estou aqui para desafiar o tempo e talvez provar que há para trabalhar a beleza com o mesmo tempo em que e com que ela (a beleza) se foi... Não exijam menos... Torçam apenas.
Agora, depois daquele tiro no canhão na torcida; depois de tantos lamentos e poemas lindos de tristeza, numa fase bem mais calma, serena, diria com todas as letras - f e l i z de minha vida, vou narrar os bastidores do meu sucesso (para alguns) e de meu fracasso (para tantos outros). Mas vou esgotar os bastidores porque aprendi em casa - esta ou aquela - que isto faz muita diferença.
Diferente estou, inteira, sobrevivente de guerra, diria que endorfinada pela vida...
Diário? Não. Apenas os dados que bem dirigidos trouxeram as cenas mais belas e... se antes eu escrevia triste o que era lindo, talvez agora eu digite certeira o que me faz feliz até porque o certo sai mesmo por linhas tortas... Mas sai. Para nunca mais voltar...

Marcelle Sá - 02/02/2012.

sábado, abril 11

Ode a noite!



Porque o mistério da vida está em acordar e ver O SOL PREGUIÇOSO DA MANHÃ. Os raios meio que de lado, fingindo que estão dormindo, esperando eu acordar. O SOL, doido pra me ver e mais: para ser percebido!

Ontem me aborrecera porque ele se foi e tem que ir sempre, mesmo quando me abro e o sinto dentro de mim... Mas aí ele volta mesmo quando estou aborrecida com esta ida e volta descabida; com este ensaio repetitivo das ondas que não vão a lugar nenhum; com esta roda nada humorística, que me cansa e afasta da paz que procuro.

Aí descobri que não adiantava mais pedir pra ele ficar mesmo quando eu mais queria, só mais um pouquinho... Porque sempre me contentara assim em não sendo digna de "controlar" um astro tanto tempo...

A partir de então passei a me despedir quando a tarde caía, já com saudade... Sabia que seria em vão, mesmo que eu implorasse, prendesse alguns raios num potinho de ouro ou coisa parecida.

Aprendi que não importa o tamanho da minha dor, o adeus é necessário mesmo que amanhã eu não esteja neste mundo pra ver o mesmo sol, já nascido, me encantar preguiçoso... Não sei se meus olhos leriam esta beleza, se minhas pernas me conduziriam a encontrá-lo lá fora, se minha pele de tão branca se recordaria do ruborizar-se desmedido, bronzeante - diria.

Mas em dias tristes, minha sorte é que anoitece. Não pela crença de que estarei feliz como ontem no novo nascer do sol, mas pelas sensações de passagem e desistência, tão necessárias, tão saudáveis e íntimas.

Por hora apenas me pergunto por que o sol tinha que ser AMARELO!?! A única palavra em inglês que rima com sua tradução na nossa língua, e que despediu-se a tempo dos meus poemas, porque as línguas não se combinavam...

- É que a leitura era outra.

Marcelle.

Imagem: inoutyou.blogs.sapo.pt/70256.html
Porque " Os encontros e desencontros são a luz que nos permite avançar passo a passo, são vida em cada dia que passa.
Retirado do mesmo blog in out you.

sexta-feira, abril 10

Meu estilo



" Ensinar pelo exemplo não é a melhor forma de ensinar, mas a única."
Lino Barbosa.




sexta-feira, abril 3

Arte na Varanda...


Primeiro, a idéia. Embutida ou explícita, não se sabe. Mas ela incomoda se conservada. Quer sair e romper as barreiras entre o haver e o existir. Emana por tantas células empenhadas em expulsá-las, por pulsos fortes, mãos delicadas e então: a PALAVRA. Naquele vazio do papel cheio de traços... Pronto; nasceu.

Depois, a história. A narrativa crua de infindas interpretações. Não cabe na disposição cardinal as dimensões deste texto. As nuances escondidas aguçam minha curiosidade. Desculpem, mas peço silêncio. Não adianta falar nada. Deixa entrar ao que se assiste. Só desnudem-se antes. Desvirginem-se lá. Sem julgamentos; sem defesas.

A invasão permitida consiste na consciência brutal de que somos compostos das mesmas células do brilhante autor, sob as perspectivas da exímia diretora, atrás das inusitadas intenções dos três atores e ponto. Porque de quantos Luís Antônios somos vítimas e acusados? Quantas Lavínias interceptam nossas atitudes? Quantas melodias deixamos chorar ao fundo ou regar nossas trilhas nem sempre sonoras? Desculpem-me, mas de quantos Luíses é feito o Antônio e quantos Antônios aparecem no Luís nos momentos cruciais do digno diálogo? Códigos... desconcertantes sem respostas... Irmãos.

Mistério, destreza, realidade, moral, ciúme, covardia. Estão invocados os incômodos que nos rondam e repito: deixem entrar pra calar, pra rasgar, pra doer. Cada detalhe e um espetáculo diferente... Cada diferença que um arrepio flagra a pele e convida uma lágrima a sair pra ceder mais espaço. Tanta sutileza contida quanto brutalidade declarada ali, diante de mim, na arte de fazer existir uma única idéia. Que se multiplica do papel aos primeiros leitores (elenco) e se re-inventa ao bel prazer nos expectadores que souberem absorver-se. Digo isto porque o ônus da prova consta do sucesso na ausência de aplausos, que pela primeira vez cede sim ao silêncio dos que renderam-se. Digo isto porque o ônus da dúvida consta pela arena exposta, pela platéia escassa, pelo cenário simples, pelo café não servido, pela luz fraca, todos cedentes à nobreza da criação.

Fico imaginando quantas surpresas eu ainda teria. Em quantas faces Gustavo, Eduardo e Bruno se desdobrariam pra me conduzir ao delírio de vê-los me esclarecer a verdade. Em que momento eu – de tanto perseguir suas respirações ou a ausência delas - desvendaria o real mistério inicialmente imaginado; ou me decepcionaria por descobri-lo nunca o feito. Fico pensando o que nos faz vendermo-nos por um sonho (fuga) ou arrependermo-nos por uma eternidade (volta) entre as duas faces, nossas.

E entre artistas que entram em mim com suas idéias, interajo com as minhas em mutação constante, porque pra idéias não dependemos de códigos... genéticos. Mas da percepção das células - estas sim irmãs - pulsando ali, junto, vibrando, como que querendo invadir a cena, beijar o palco molhado de suor, lamber as palavras daquela forma ditas, acariciar a melodia que por si grita; perdoar-me por tudo que não foi feito de fato.Porque emocionar é mais que toque, som, imagem e choro. É entrar em alguém em silêncio e permanecer, inovando a cada virada em que se imaginava já estar pleno. E recriar, desvendar, enlouquecer... Aplauso é retribuição indigna. Já que entraram, peguem o que de fato é de valor: NOSSO SILÊNCIO.

Quantos Luís Antônios? Espero continuar contando, ainda que sozinha, e espero que entendam...

Atenciosamente, Marcelle Araujo!






Pronto! Voltei a escrever porque voltei a me emocionar... Senão pelos dias cheios de Luz que Deus tem me concebido, pelo amor ao meu trabalho que ainda existe quando não me repele em exaustão, pela natureza quase morta de sensibilidade aflorada nas pequenas atitudes, mas pela ARTE!
Das minhas doídas despedidas, eu sempre volto quando me invocam... E este grupo me invocou esta semana a escrever. Senão pela tristeza da ausência de tudo isto me remete, senão pela natureza sentida ali junto, senão por querer voltar no tempo e me tornar parte de certa forma... ESCREVI.
E escrevendo retomo esta varanda abandonada apenas para dizer que a felicidade existe se soubermos ter olhos para lê-la ao nosso lado, na semelhança que procuramos, na harmonia dos olhares e mais nada!!!
Às minhas amigas Márcia e Juliana, muito obrigada por respeitarem mais este tempo meu! Estou aqui onde sempre estive, com mais saudades do que nunca!
Marcelle.










"Chorávamos Terra Ontem à Noite".
Texto: Eduardo Ruiz
Direção: Lavínia Pannunzio
Fotos: Lenise Pinheiro

sexta-feira, janeiro 30

Ainda luto...

witchbel.files.wordpress.com/2007/10/silencio




O que eu escrevo aqui, morre aqui com o dia de hoje. Provavelmente não estarei mais na varanda nos próximos dias, nos próximos meses, nos próximos anos. Porque a PALAVRA morreu. Morreu em mim, no último dia em que fiz uso público dela; que a entreguei não para olhos, mas ouvidos! Após 11 anos. Era a despedida da palavra falada obviamente, e comunico que da palavra escrita também.


Esperei muito este dia... Lutei muito por este momento, por esse sabor de lágrima feliz regada a realização do que me fez realmente dormir tarde todos os dias durante 3 meses lutando contra o sono e contra minha cabeça que insistia em remeter-se ao som do meu coração. Era o início de um funeral. Fazia muito frio naquelas noites... As músicas que eu escolhia pra me manterem acordada eram inúteis... Fazia muito silêncio nesta casa... Mas era o início de uma guerra. Eu lutei contra tudo e todos por uma prova. EU fazia tudo. Trabalhava, estudava, e velava noites inteiras a sua morte. Você havia morrido, mas eu não havia te matado... Você havia se feito isto e usou requinte de crueldade. Eu seria forte. Ultrapassaria mais uma "parede" em que me esbarrava pela vida.


Pronto! Passou - pensei.


E vivia agora dias tão felizes, meu Deus! Ninguém o sabe, só Ele! Eram as respostas que eu procurava por estes meses de angústia! Findo o ritual (funerário) no meu feliz ano novo, ao fundo letras de "noites traiçoeiras" que me pediam a "calma" que não tive, ultrapassava ontem de presente mais duas barreiras importantes. As algemas no cordão umbilical (minha mãe aqui) e a vitória mais forte e suada que percorri com fé em Deus. PASSEI na tal prova, apesar dos ritos de dor que me fisgavam a alma naquelas noites de guerra. Agora foram dias cheios de "emoções", como diria minha amiga , típicos no meu calendário. Mas atipicamente me surpreendi sim com a velocidade dos fatos que nem vêm ao caso aqui.


Para brindar os momentos, muitas surpresas... E a MAIOR! Para um bom leitor, um bom escritor basta... Desde que se tenha a PALAVRA, não dita, nem escrita... A sentida no silêncio absoluto que só não é alcançado pelo ser humano porque os batimentos do coração seriam então ouvidos, lembra? Quase tudo sem palavra... enquanto eu a tinha! Quase tudo de olhos fechados, porque nos confiávamos. E tudo perdido na visão do que não vi, mas que só agora vejo que causei. Perdi.


Não sei quanto tempo durará meu luto, mas meu silêncio sei. Porque agora o funeral é do meu próprio corpo, da minha própria alma. Aprendi há muito tempo na vida que quando se morre, se silencia de fato. Não simplesmente porque se priva de palavras, mas porque aí silencia o coração também. Vira silêncio absoluto. Nem ser humano e nem verme faz barulho algum. Então a euforia de ontem (180 batimentos por minuto) precedia a "parada" de hoje e eu não sabia. Não sabia o que fazia. Não sabia que trairia a mim, que morro aqui com a minha palavra. Porque eu sou as minhas palavras. Esta era a minha identidade, minha forma de desafogar TUDO. Escrevo desde que me entendo por gente. Traduzo pensar e sentir nisto aqui. Em palavra, substantivo abstrato que me traiu também. Merecia ser enterrada mesmo pra ser concreto tudo o que disse antes de ontem. Enquanto ela existia SIM. Porque não há tradução pra tudo. Porque antes era sentido mais que dito e continuará sendo no silêncio. Porque traduzo minhas emoções em palavras e nem sempre em atitudes. E foram as palavras que ouvi que te tiraram do túmulo. Não suas atitudes. Mas não insisto. Deixo pra cair na prova dos dias sem sentido que percorrerei mais sozinha ainda, mais especializada ainda, mais triste ainda. E sabe o que me surpreende? Não mais a velocidade dos fatos. A ironia. A sensação de bater no vazio, as lágrimas que gritam por dentro, o vazio de não te amar menos (como no seu funeral). Porque a cada minuto cresce este vazio e a dor pelo que fiz. Porque no vazio de mim, desabitado de você não faz silêncio. E agora deixo de dormir e não é por prova. Estou velando. E este ritual vai durar a minha eternidade.

Adeus à varanda. Aqui me despeço.


Marcelle.

domingo, janeiro 18

"A PIOR VONTADE DE VIVER"




" Todos são tão compreensivos, aceitam tão bem suas escolhas, torcem por tudo que você faz, não é mesmo? Desde de que você faça o que esta no script. Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe-se lá por quem e homologado no instante mesmo em que você nasceu. Mas e quem não quiser seguir esse script?


Em dezembro próximo, serão completados trinta anos da morte da escritora Clarice Lispector, que entendia de subversões emocionais. Fui convidada a participar de um evento que a homenageia, em Porto Alegre, e em função disso andei relendo algumas de suas obras e encontrei no conto "Amor", do livro "Laços de Família", uma de minhas frases prediletas. Assim ela descreve o sentimento da personagem Ana: "Seu coração enchera-se com a pior vontade de viver". Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa. Ela, a pior vontade de viver. A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.


No entanto, essa que foi chamada a "pior vontade" pode ser também uma vontade genuína e inocente. É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada. É o desejo de açucar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos. A "pior" vontade é curiosa, quer observar pelo buraco da fechadura e depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido. A "pior" vontade é a de não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não render-se ás vontades fixas, apenas às vontades momentâneas, porque as fixas correm o risco de deixar de serem vontade para se transformarem em vaidade - como se sabe, há sempre aquelas que se envaidecem da própria persistência.


A "pior" vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, não quer completar bodas de ouro nem ser jubilada. A "pior" vontade não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada. É quando você sabe que tomarão como agressão, mas arrisca. Aqui, cabe lembrar: apenas se sentem agredidos aqueles que te invejam. A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o que vai no seu íntimo, e sim a opinião pública. É a vontade que todos nós, de certa forma, temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a "pior" vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consciência do efêmero, é saber-se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo-ou seja, tudo.


É com essa "pior" vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante. É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir à tona esta que Clarice Lispector chamou de a pior vontade de viver, que, secretamente, é a melhor. "

(Martha Medeiros)


Postado por Marcelle

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segunda-feira, janeiro 12

Meu Feliz Ano Novo...

"Essencial é ter paixões e amigos. Para acumular esses bens Vinícius de Moraes zerava-se, renovava seus votos a cada dia. Isso a custo altíssimo. O simples nunca foi fácil para quem tem um coração no lugar onde muitos possuem gelo. As pedras de gelo de Vinícius estavam onde tinham que estar, no seu copo. Entre sobreviver e viver há um precipício e poucos encaram o SALTO. Vinícius diria: - Vai, vai viver."

Juliana Gonçalves



Publicado por Marcelle, em agradecimento a tudo que esta amiga-irmã significa pra mim... Assim recomeço após o grande salto: aprendendo a viver com os que admiro tanto! Continuemos como Vinícius - ídolo comum. Zerando e deixando acelerar o que trazemos no peito, saboreando o gelo no melhor lugar dele... Custe o que custar... Porque é preferível viver que se esconder! E machucar-se que não saltar... As águas de Cabo Frio me entraram na alma!








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quarta-feira, dezembro 24

SONHAR É PRECISO



Se aos teus sonhos outros sonhos tu somares


Sob a espera da presença do irreal,


É porque estás além dos patamares


Dos arautos da frieza universal



Continua o teu sonho e não te ponhas


Na linhagem dos pétreos, sem sorriso,


os Anjos te assistem enquanto sonhas


E na terra te preparam um Paraíso...



Benditos sejam os sempre sonhadores,


Fiéis aos passes de mágicos atores,


Que transformam o devaneio em realidade



Quem não sonha do seu chão não tem ciúmes,


É incapaz de lutar contra os costumes


Que corrompem os ideais de Liberdade...


Olavo Drummond



Lute e realize seus sonhos.


Inove em 2009


Imagem: brisas.blogs.sapo.pt/16764

segunda-feira, dezembro 15

SE...



Se és capaz de manter tua calma,
quando todo mundo ao redor já a perdeu e te culpa.

De crer em ti quando todos duvidam,
e para esses, no entanto, achar uma desculpa.


Se és capaz de esperar sem te desesperares,
e enganado, não mentir ao mentiroso.

Ou, sendo odiado, ao ódio te esquivares,
e não ser bom demais nem pretensioso.


Se és capaz de pensar, sem que a isso só te atires,
e de sonhar, sem fazer dos sonhos teus senhores.

Se, encontrando a Desgraça e o Triunfo conseguires
tratar da mesma forma a esses dois impostores.


Se és capaz de sofrer a dor de ver transformadas em armadilhas
todas as verdades que disseste.

E estraçalhadas as coisas por que deste a vida,
e refazê-las com o bem pouco que te reste.


Se és capaz de arriscar numa única parada
tudo quanto ganhaste em toda tua vida.

E perder e, ao perder, sem dizer nada,
resignado voltar ao ponto de partida.


De forçar coração, nervos, músculos, tudo,
e dar seja o que for neles que ainda existe.

E persistir quando, exausto, ainda te resta
a vontade que te ordena: Persiste!


Se és capaz de, entre a plebe não te corromperes,
e entre reis não perder a naturalidade.

E de amigos, quer bons ou maus, te defenderes,
e a ambos poder ser de alguma utilidade.


Se és capaz de dar, segundo por segundo,
ao minuto fatal todo valor e brilho.

Tua é a terra com tudo que existe no mundo, e – o que é muito mais –
és um Homem, meu filho!


Rudyard Kipling
Imagem: blogdapalavra.blogs.sapo.pt/arquivo/vento.jpg

segunda-feira, dezembro 8

NÃO IMPORTA O RESULTADO...

... Just because "I'd put my spirit to the test..."!!!

And that's all...

Marcelle Araujo