domingo, abril 20

Teresopolitando


“A maior solidão é a do ser que não ama। A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana।A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro।O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo। Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno। Ele é a angústia do mundo que o reflecte। Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o património de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre।”
Vinícius de Moraes

quinta-feira, abril 10

É... estou pensando!

Sim! Esta varanda já tem tempo suficiente para pensarmos em reformas.

Ando afeita a elas, desde quando me desencantei com as revoluções!

As reformas nos chamam mais para nossa humanidade, enquanto as revoluções são sempre produto de muita pretensão humana, de efetivamente virar a página, como se nossas vidas fossem livros, cuja determinação do escritor, definisse isto ou aquilo.

Hoje me concebo muito mais como uma tela. As novas tintas sobrepõem às velhas, e assim penso que o quadro, sempre inacabado, é belo em todas as existências, pois o movimento que o garante, é sua própria identidade.

Ando pensando em reformar a varanda! Ela nasceu em meio a muitas lágrimas e risos frouxos. Sim... eu fui feliz!

Hoje, lamentavemente ouvir um discurso inútil, vazio, cujo título era "Eu odeio Chico Buarque". Quem escreveu, em um jornal de circulação popular da cidade que eu moro, foi um colega de trabalho, que mal conheço de vista. Fiquei pensando o quanto precisamos falar sobre o que nos incomoda, e aqui estou eu... (rs). Felizmente o que incomoda o incomodado com o Chico, não é o mesmo que me incomoda...

Dada a minha paixão pela obra viva de Chico, eu pulsei na hora que ouvia atentamente a leitura da reportagem. Pensei primeiro criticamente: será que minha paixão é cega a ponto de eu encher o saco de quem diz não gostar de Chico? Acho que não... mas aceito ponderação contrária!
Depois pensei: de onde vem a vontade de pessoas, que são projetadas a ponto de emitir suas opiniões em um jornal de ampla circulação em Campos dos Goytacazes (quase sempre entendida como umbigo do mundo pelos campistas), manifestarem seu ódio? Não seria possível lamentar a existência de um universalismo radical dos fãs de Chico Buarque, e inclusive levantar questão urgentes sobre as unanimidades? Não faço idéia se Chico se pretende universal, atendendo ao gosto de todos, embora seja visível seu ecletismo. Minha admiração por Chico, me faz pensar que ele não se pretende universal, e se ele se pretende, eu teria aí um motivo de ressalva para a minha enorme admiração.

Quanto ao colega, pensei: "uns gostam dos olhos, e outros gostam da remela". Só não dou um grito de "Viva a Democracia" por crer plenamente que "toda unanimidade é burra", inclusive os que partindo do princípio da unanimidade, defendem a democracia.
E volto à pergunta: qual é necessidade de expressar que odiamos? E, eu, que me sinto traduzida pela poesia buarquiana, tenho por isto um defeito socialmente icorrigível para os que se pretendem universalistas, egos transcendentais?

Coincidências à parte, tomei estas questões, após pensar a reforma da varanda, em tons azuis, inspirada na música Vida, por estar ávida de luz! Eu reconheço que eu fui feliz nas trevas da noite... e, eu bem sei por qual razão de meu corpo estar pedindo mais dia!
Quero continuar batendo papo na varanda... não sei se minha parceira de alpendre vai topar papear à luz do dia... vejamos!

Preparando a reforma


VIDA

Chico Buarque


Vida, minha vida

Olha o que é que eu fiz

Deixei a fatia mais doce da vida

Na mesa dos homens, de vida vazia

Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz

Vida, minha vida

Olha o que é que eu fiz

Verti minha vida nos cantos, na pia

Na casa dos homens de vida vadia

Mas, vida, ali, quem sabe, eu fui feliz

Luz, quero luz

Sei que além das cortinas são palcos azuis

E infinitas cortinas com palcos atrás

Arranca, vida

Estufa, veia

E pulsa, pulsa, pulsa,

Pulsa, pulsa mais

Mais, quero mais

Nem que todos os barcos recolham ao cais

Que os faróis da costeira me lancem sinais

Arranca, vida

Estufa, vela

Me leva, leva longe,

Longe, leva mais

Vida, minha vida

Olha o que é que eu fiz

Toquei na ferida, nos nervos, nos fios

Nos olhos dos homens de olhos sombrios

Mas, vida, ali, eu sei que fui feliz

Luz, quero luz

Sei que além das cortinas são palcos azuis

E infinitas cortinas com palcos atrás

Arranca, vida

Estufa, veia

E pulsa, pulsa, pulsa,

Pulsa, pulsa mais

Mais, quero mais

Nem que todos os barcos recolham ao cais

Que os faróis da costeira me lancem sinais

Arranca, vida

Estufa, vela

Me leva, leva longe,

Longe, leva mais

Vida, minha vida

Olha o que é que eu fiz...
A foto desta postagem foi tirada por mim, Marcia. Era véspera do Natal de 2007, na BR101, quando fiquei sabendo que esta árvore tratava-se de uma sobrevivente solitária da Mata Atlântica no Espírito Santo. Só isto me já me chamou atenção! Quando soube que os moradores dos arredores construíram um protetor para ela, pois estava sobrecarregada dos transeuntes inscrevendo seus nomes, certamente flechados em um coração que machuca também o belo cedro.
Achei tudo isto muito rico em simbologia:
uma espécie rara,
à beira da estrada,
entre tantas matas de eucalipto,
solitária entre tantas iguais árvores.
Sendo assim, passou a ser própria para humanos,
nem tão enraizados,
mas igualmente sós,
entre tantos iguais,
mas de passagem,
incrustrando no cedro sua identidade,
o seu desejo de felicidade,
ou até mesmo a sua dor.
Tudo isto, levantou o cuidado dos mais prudentes e enraizados,
atentos à sóbria e imponete sabedoria do cedro.
Deu vontade de aprender as lições... tirei a foto, e segui viagem!

Reforma da Varanda...

Cores novas, formatos novos, muretas novas... enfim: novo astral, novas abordagens sobre velhas questões e entre velhas amigas...
Aguardem!