Após seis meses de abstinência, finalmente me rendo aos prazeres da frequência cardíaca elevadíssima, do suor escorrendo, dos músculos tensos, da fronte rígida, da água escassa, das endorfinas... De volta aos movimentos e à vida, se me permitem filosofar, ("porque só o que é morto tá parado") reencantei-me, ali na academia, com aquela música que me remete aos meus tempos de teatro em que, sim, me sentia humildemente "atriz" por alguns segundos... Aos mistérios que havia naqueles tempos e à magia que se segue, só cabe hoje, na varanda, essa música e mais nada...
Olha,
Será que ela é moça?
Será que ela é triste?
Será que é o contrário?
Será que é pintura?
O rosto da atriz...
Se ela dança no sétimo céu,
Se ela acredita que é outro país,
E se ela só decora o seu papel?
- E se eu pudesse entrar na sua vida?
Olha,
Será que é de louça?
Será que é de éter?
Será que é loucura?
Será que é cenário?
A casa da atriz...
Se ela mora num arranha-céu,
E se as paredes são feitas de giz,
E se ela chora num quarto de hotel?
- E se eu pudesse entrar na sua vida?
Sim, me leva pra sempre, Beatriz,
Me ensina a não andar com os pés no chão,
Para sempre é sempre por um triz...
Aí, diz quantos desastres tem na minha mão?
Diz se é perigoso a gente ser feliz?
Olha!
Será que é uma estrela?
Será que é mentira?
Será que é comédia?
Será que é divina?
A VIDA DA ATRIZ...
Se ela um dia despencar do céu?
E se os pagantes exigirem bis?
E se o arcanjo passar o chapéu?
- E se eu pudesse entrar na sua vida...?
- Perfeita! Obrigada Chico!
Chico Buarque de Holanda
Recomendo na voz de Ana Carolina
Imagem retirada da galeria de fotos do site "Vagalume".
Postagem de Marcelle Araujo.