sábado, dezembro 2

No Natal do ano passado...

...eu escrevi este texto. Naquele momento eu fervilhava de emoções e desejos. Hoje, véspera do posterior natal, mergulho em emoções brandas, tendo restado o sentido natalino, saudades de Chico e de tudo que vivia como presente de Natal naquele momento... "Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar..."

Reflexões natalinas



Este ano havia me prometido: não me seduziria pelo consumo, nem tampouco pela troca de presentes...


Arrumei em minha casa uma árvore e um rizoma natalino, além de um presépio. Salvo o rizoma natalino, nenhuma novidade: a árvore é velha e o presépio também, e este, cada ano menor.


Neste ano, em especial, o presépio conviveu com um gatinho, Chico, que concorreu com o menino Jesus nas instalações do estábulo. No dia seis de janeiro o presépio será recolhido desta vez com um déficit maior, pois o gatinho não será empalhado, apesar de ter colocado o rei mago, o São José, os pastorinhos e, até o galo para dançar.


Menos para o humor retirado da rotina e não consegui fugir das reflexões natalinas. Penso que o excesso de verde e vermelho, par de cores mais vibrantes no espectro humano, deva produzir algumas reações bioquímicas que me inquietam ante a orgia degustativa natalina. A pergunta é a de sempre: estamos comemorando o quê? Por que, nem os confessos ateus, conseguem evitar o “Feliz Natal”?


Sou cristã, não mais como um ato confessional (ando sem disposições para atos de fé), mas como uma lente tecida em meu olhar, que antecedendo a qualquer credo, me fez reconhecer-me no mundo e também o mundo. Se subtraída tal lente, o mundo tornar-se-ia por demais turvo.


Partindo do pressuposto que seriam possíveis muitas respostas para as perguntas acima, escolho uma que motive tanta comilança: o Amor se fez carne entre nós. Nasceu!


Mas a resposta não me retira a inquietude. Nunca externei o meu descontentamento do AMOR ser tratado por lei a partir do NATAL cristão. Especulo e penso mesmo que deve ter havido um problema de tradução, ou até mesmo uma questão etimológica mal resolvida. Confesso que nunca estudei esta questão, mas ela há muito me inquieta: como pode o AMOR ser tratado por LEI como o faz o cristianismo? Esta é a lei: amai ao próximo como a ti mesmo!


No mundo jurídico, há o apelo para a diferenciação entre a norma e a lei, sendo a primeira, o princípio da autonomia, do que se auto determina, e a segunda o princípio da heteronomia, o que pelos outros é determinado. Ainda que o AMOR cristão fosse traduzido como norma, me restaria a questão: AMOR cabe na esfera das determinações?


Meu espírito natalino, safado e arredio, tende a conjugar AMOR e NASCER, natal e encarnação do AMOR. Nada nasce sem inseminação. No mundo vegetal, inseminar é um verbo que depende de vários sujeitos: ventos, correntes marítimas, sementes, rios, insetos, aves, sei lá! Amor é fruto? Amor é filho! Filho que nasce!


No mundo animal, inseminar depende de olhares, toques, conquista, luta, relação, perdas e ganhos, nascimento e morte. Até Maria se seduziu pelo anjo Gabriel, e se inseminou de seu sopro: e José, ao que tudo parece, participou desta história. O ato de nascer inclui dores e glórias: dói para quem pare assim como para quem nasce. Nascer é um ato de morrer! Ao nascer estrangula-se uma flor para que venha o fruto. Esvazia-se um ventre para que venha um filho. E eu ainda não consegui entender como isto pode virar uma determinação, posto que, sendo lei, não tem luz, não tem brilho, não tem sentido, não tem sabor, não tem graça natalina. E lá estou eu inseminando dúvidas...


Amar ao próximo como a ti mesmo, não tem sabor de inseminação, é lei na cultura cristã. Não sei o que Jesus Cristo disse ao proferir palavras equivalentes, mas o que andam dizendo em nome dele é ensimesmado demais para ser fértil.


Sinto que o AMOR que se converte em NATAL, nascimento, além de não caber no campo das coisas que são ditadas, requer TEMPO. Sim, amar requer tempo, sedução, cuidado, trocas, e até uma certa disposição para a dor, senão não nasce. Penso que quem tenta no AMOR só obter prazer tá f... , mas há os que insistem nesta idéia seduzidos pelo insimesmamento do utilitário “é dando que se recebe”. Neste aparte não quero ser considerada blasfema: os que me conhecem sabem que guardo a imagem de Francisco de Assim como aquele que inseminava flores e frutos sem ser motivado pelo retorno.


E isto tudo é para dizer que desejo a todos (as) que o tempo que se segue a este NATAL, seja de AMOR! (2005) Para mim também, mas um tempo de amor sem tantos delírios de alteridade!!!! Inseminando novos projetos para um feliz, sem a exclusão da necessária dor, quando couber, e numa manutenção constante de PAZ! (Márcia 2006)

Imagem obtida em: http://baixaki.ig.com.br/papel-de-parede/3151-natal.htm

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