segunda-feira, setembro 17

Lamento...




Forjada que fosse a graça,


Secreta seguisse a chama,


Solene disfarce no passo,


Pequeno impasse em drama.



Pacata que fosse a lágrima,


Distante que fora a gana,


Aos olhos que se transpasse


O impasse que se derrama.



Pois dada que seja a farsa,


Ofegante que se faça o pranto


Dos olhos que jorram água


Do nada de meus enganos.



Do nada dos desencantos,


Do fardo de meus tormentos,


Dos atos de meus espantos,


Das lágrimas que eu lamento.



Lamento, se por acaso,


Os rastros já não compensam,


Se as lágrimas que já se arrastam


Disparam, disfarçam e lamentam...



(Marcelle 1997)












DIRETO DO ESCONDERIJO ENTRE AS MONTANHAS ÀS PÁGINAS SEGUINTES - AVANTE!





Dez anos se passaram e minha história fui escrevendo de trás pra frente... O que fazer se o que tenho a trazer são estes escritos? O que escrever pra mudar o final da história? Cabe a mim? Às vezes prefiro entregar canetas à espera que escrevam comigo... Mas poucos o sabem fazer de fato... E os que escreveram parecem não alcançar-me mais. Registro, hoje, isto aqui na expectativa de que nos próximos dez anos não me reste tão pouco como agora: o extremo vazio das páginas relidas e sem final feliz... Porque apesar de ser feliz, gostaria de pintar outras cores nas próximas páginas como se esperasse então que alguém me aparecesse com um novo "jogo" de canetas e me surpreendesse a rabiscar desenhos ao invés de poesias pra contrariar meus sonhos e invadir-me de paz, porque "a paz que procuro" não se escreve..., nem se visita em cenários, mas na musicalidade das diferentes notas a compor uma única melodia... Na singularidade das almas calejadas e na diversidade das mãos unidas... Na sensibilidade com que se lê o que ninguém escreve e se interpreta o que ninguém disse, porque a linguagem dos anjos se compõe de gestos e não de verdades, assim como a graça da bailarina se traduz nos movimentos e não na coleção das dores musculares... Não! Eu não esperava que fosse renascer sem dor, nem ter chegado ao fim da corda bamba... Aceitei o desafio de recriar novos mundos sim, mas implorava por trégua... Lamento as rasteiras, mas não vou rastejar novamente só pra não sentí-las porque prometi-me ainda perder o fôlego muitas vezes e amar é quase uma necessidade minha... E o que tiraram de mim, não roubarei de ninguém porque a moeda de troca simplesmente não é troco que se mereça... Por hora, lamento! Lamento a frustração das páginas que relerei sem títulos, assim como tudo foi ficando sem sujeito... Lamento a história mais desrimada e a saga que me persegue - parece-me que escrita previamente por mim mesma! Mas despeço-me de cabeça erguida, certa de que "amor a se fazer é tão prazer que é como se fosse dor..." - já diria Elis Regina.

E que me encontrem no caminho muitas cores novas, muitas canetas cheias de sonhos, muitos arco-íris a seguir, porque definitivamente a luz que tínhamos era minha e foi ofuscada demais...

- Agora, por hora, ainda lamento!


Texto nascido em 26 de agosto de 2007 - Teresópolis-



entitulado Libertação -









Marcelle



Imagem retirada de www.john-howe.com/portfolio/gallery/data/medi

4 comentários:

Varanda do Degredo disse...

Marcelle,
No seu nível, me vi tentada a comprar para mim dois novos livros de velhos autores meus (estou tão assumidamente possessiva, que nem disfarço...) um Rubem Alves e outro Yves Leloup, na verdade dois apaixonantes heréticos. Confesso que três foram meus confortos nestes tempos primaveris: ler as divagações teológicas de Rubem Alves, em "Variações sobre a vida e a morte", ler sobre os delírios ônticos de Yves Leloup, em "Judas e Jesus" e ler a sua última postagem. Não me sinto só, apesar de ser eu uma herege insubordinada, uma degredada ao vento que sopra nesta varanda.
Um bjo grande de quem te ama muito e transborda de gratidão pela sua generosidade comigo,
Márcia

Varanda do Degredo disse...

Era para sair no seu níver... estou destreinada do teclado, acredita???

Varanda do Degredo disse...

Márcia,

Às vezes você me surpreende com seus exageros! Mas, se você fala de conforto, apenas aceito... Relativo e subjetivo, e você a corujona de sempre! Mas me deixou em dúvida: qual a postagem a que se refere? Porque esta (do comments) foi postada depois do meu aniversário (17 de setembro)apesar de haver nascido antes...
E venha mesmo sempre à varanda porque os ventos daqui revigoram as energias... Estarei sempre te esperando... Até te ver treinada novamente nos teclados! Um beijo, Marcelle.

Unknown disse...

Marcelle,
perceber esse momento de superação me mostra que eu sempre estive certa ao achar você uma pessoa super especial Como todos os outros, o texto é uma lição de vida em palavras sutis...
Saudade de você, amiga
Beijão
Sabrina