sexta-feira, dezembro 28

Abstinência

Nas três cores do semáforo:


blog.magelstudio.com.br/.../semaforo_pimenta.jpg










Este ano ainda me brinda! E me vem à lembrança muitas peripécias... Devo agradecer muito aos que me acompanharam e aos que me perseguem... Refletindo dentre trabalhos, baladas e instintos (refiro-me aqui ao ímpeto de escrever sempre, em qualquer lugar), coloquei na data de hoje o prazer e a solidão de escrever-me, mais uma vez... Confesso que já sem a pretenção de ser ou não lida - porque isto nem me basta e deverá doer de alguma forma - rondo entre os temas saudade e corda bamba...


Olhei pra trás ou pra mim dia desses e perguntei-me: e aí? - Aí que agora estou aqui! História nova, perseguidores diferentes, ritos sagrados de cúpula e a memória de uma abstinência ímpar! Por vezes conto-me a história que diferencia homem de lagarto, numa espécie superiorana em que distinguimo-nos em sacrificarmo-nos em prol de alguma fagulha de satisfação... Nesta de sacrifício deixamos o humano de lado (animal que somos) e entramos numa de abstermo-nos de sono, comidas, tragos, romances, bebidas, pessoas queridas (deuses que tentamos ser) e dedicamo-nos a ideais não instintivos de "prazer" iminente... Buscamo-nos destacarmo-nos entre milhões (homens que somos)...


Dois mil e sete devolveu-me muito dessas "satisfações"... Alimento-me ainda dos frutos desta árvore que plantei desde os tempo de menina... - relançando cada passo, refazendo meus horizontes - bem sei...


Este texto é pra sacramentar os rituais de enterro aos quais me dispus insanamente e felizmente... Mas ao findar, lamento declarar o vazio, ainda! - Lamento deixar na estrada a essência desta vida...


Em não sendo lagarto, apenas abstive-me... Mas continuo respirando, comendo, vivendo cada dia como se o outro fosse certo pra continuar o que deixei de fazer e ao invés de diferenciar-me. E na verdade sou mais uma na trágica e dilacerante fábula de diferenciar-me... Porque não é certo comer demais, fumar cigarros, insistir em relacionamentos antigos (e falidos), embriagar-me, dançar à noite, pegar chuva, faltar aula, viajar quando todo mundo está estudando, comprar uma roupa nova quando se ganha mal, ouvir música, ler romances tolos, atender a um telefonema desejado (mesmo que insano), assistir a um filme minutos antes do plantão, ceder e ceder... Tudo isto - dizem - faz mal... Não é o que esperam ou espero de mim - aprendi!


Mas quando não havia mais nada, havia alguém e alguma coisa, que assim me foi tirado... Que matei em mim... Adestrei-me por qualidade de vida, por longevidade, por saúde, pelo que é "certo" e nem me dei conta de que definitivamente não sei quando deixarei de respirar... Se terá valido a pena... Mas abstenho-me... Mais uma vez... Quero saber se a satisfação me completará como agora... (rsrsrs). Mas adapto-me. Recrio histórias pra me contar antes de dormir... Certa de que pelo menos, tenho do que saudar e abstendo-me destas lembranças, revigoro-me. Certa de que mais fácil seria não ter do que abster-me, e mais triste também... Porque dessas histórias me fartarei se um dia puder contá-las aos meus netos...; se eu me policiar até chegar lá respirando...


Porque a vida é bem mais do que viver para os outros e sentir saudades é reviver o que passou (sim, e daí?)... E que eu sinta saudade sempre dos que sentem de alguma forma saudade de mim por mais um ano... E que sejam tecidos bordados lindos assim inertes nas abstinências a que me propuser e que eu concordar, porque viver é bem mais que respirar e diferenciar-me... Viver tem sido ser igual, vencendo meus próprios limites, os limites humanos e mesmo os limites dos deuses... Num eterno vigiar-me pra não sofrer, pra não desmoronar, pra não adoecer, pra não ceder aos instintos que definitivamente foram herdados dos deuses aos seres que não sabem usar...


Porque assim SOMOS!



Marcelle (dez/2007)





Temos um arco-íris de possibilidades:



http://adlizjamile.blogspot.com/2007/09/botes-de-massinha.html
EM 2008, SEJA FELIZ!



quinta-feira, novembro 15

Calma


Escutei isto hoje duas vezes!
Entrou na minha alma feito um bálsamo...
Então trouxe para a varanda!


Paciência


Lenine


Composição: Lenine e Dudu Falcão


Mesmo quando tudo pede

Um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede

Um pouco mais de alma

A vida não pára...


Enquanto o tempo

Acelera e pede pressa

Eu me recuso faço hora

Vou na valsa

A vida é tão rara...


Enquanto todo mundo

Espera a cura do mal

E a loucura finge

Que isso tudo é normal

Eu finjo ter paciência...


O mundo vai girando

Cada vez mais veloz

A gente espera do mundo

E o mundo espera de nós

Um pouco mais de paciência...


Será que é tempo

Que lhe falta prá perceber?

Será que temos esse tempo

Prá perder?E quem quer saber?

A vida é tão raraTão rara...


Mesmo quando tudo pede

Um pouco mais de calma

Mesmo quando o corpo pede

Um pouco mais de alma

Eu sei, a vida não pára

A vida não pára não...


Será que é tempo

Que lhe falta prá perceber?

Será que temos esse tempo

Prá perder?E quem quer saber?

A vida é tão raraTão rara...


Mesmo quando tudo pede

Um pouco mais de calma

Até quando o corpo pede

Um pouco mais de alma

Eu sei, a vida não pára

A vida não pára não...


A vida não pára!...


A vida é tão rara!...
Acho que esta música já tocou aqui na varanda outras vezes...
Mas hoje, quando ouvi duas vezes seguidas na mesma rádio, eu entendi uma espécie de conspiração para que eu ouvisse e aqui trouxesse.



sábado, outubro 13

Em 2007




















Esta bandeira também é minha...














Imagens:

tu-que-dices.spaces.live.com

www.bankhacker.com/queopinas/ley

quarta-feira, setembro 26

Sobre SER e TER VERDADE(s)


"Olhe como ele encara a multidão, como ele encara Pialtos. É ele o condenado e no entanto, ele se comporta como um rei, ele não tem mais nada a dizer, ele é o que é. Ele não tem nenhuma verdade a dizer, ele é a Verdade... Felizmente elel não diz o que é a verdade! Poderíamos nos apropriar de suas palavras e poderíamos, então, 'ter' a verdade e desprezar aqueles que não a 'possuem'. Yeshoua não nos dá uma verdade que podemos possuir, ele é o exemplo de uma verdade que devemos ser, mesmo em face da adversidade, da injustiça e da arrogância dos poderosos... Yeshoua não nos dá algo que poderíamos transformar em um ter, um saber ou um poder. Ele nos concede o dom de cada vez mais sermos 'Eu Sou', de crescermos em consciência e em amor... Yeshoua não e uma verdade que temos, mas uma verdade que somos. O Reino do qualnos fala Yeshoua é o mundo daqueles que são a verdade, daqueles que são verdadeiros".


Esta é a fala da Jacó a Judas Iscariotes, o zelota, quando ambos assistindo ao ritual de condenação de Yeshoua (Jesus), Judas amargura o sentimento de ter sido traído por seu mestre, de quem ele tinha uma expectativa de ser um salvador, messias deste mundo. Tal passagem encontra-se no livro de Jean Yves Leloup, Judas e Jesus: Duas faces de uma única revelação.

Judas beijando Jesus (cena do DVD da National Geographic).disponível em:http://www.chamada.com.br/mensagens/beijinho_safado.html

Ler Yves Leloup nesta obra, baseada nos escritos do próprio Judas, no seu evangelho, é um exercício de extrapolar a narrativa histórica e entrar no mundo da psiquê humana, onde encontramos em nós tantos Judas quantos Yeshoua. Mais interessante, neste particular é a dualidade que nos toma entre ser verdadeiro, a opção de Jesus, e ter a verdade como uma arma a modificar o mundo, pressuposto da luta do zelote Iscariotis.

Vale dizer que a busca por ser verdadeiro implica numa conduta ainda tida como herege, nos nossos tempos. E que ter uma Verdade a ser fincada no mundo, traduz-se, ao meu olhar, como um desejo imperialista de se ganhar o mundo pela força, e não pelo amor.

Postado por Márcia,

Após mais uma tormenta na busca por ser verdadeira.


segunda-feira, setembro 24

Sala de aula

Pietà de Miguel Ângelo
(Imagem retirada de kcfac.kilgore.cc.tx.us)
Que seja de encantos o nada
E de contos de fadas
A verdade não dita...
Que venha de ensaios a farsa,
E que de mentiras se entregue
A paz que se acredita...
Que seja de heresia a saga
E que se inunde de fé a estrada
Por tantas vozes preenchida;
Que seja de alívio a dança
Enquanto eu sonho de criança,
Acorrentada a este castigo...
Amém!
Remeteu-me aos tempos de sala de aula em que aprendia nas manhãs daqueles dias as verdades que não preenchem; que não me respondem... Naquelas manhãs alguns me falavam o que me confortava... Hoje anseio pela presença dessas verdades e não as encontro em mim... Mas a fé ainda me move enquanto presencio o que me acalenta e me reconheço na face dos que sofrem por simplesmente CRER em alguma coisa maior que esta que já temos... Por querer o bem e não podermos fazê-lo porque parece não inocente; não isento de dor... Assim seguimos sofrendo o que não atingimos e perseguimos o que não vemos, mas que queremos com toda nossa força, com todo nosso "eu"... Remeteu-me PIETÀ e comungo de sua expressão na perda das forças; na perda da esperança que insisto em afirmar ser - a meu ver - o que rege a humanidade. Os disfarces destas dores se traduzem em mais um pecado originalíssimo: o de negarmo-nos a despeito da dor que podemos causar aos que amamos de fato e em troca desfazermo-nos aos poucos pela ânsia de poupá-los. (E isto não fora ensinado no meu tempo de colégio, pelas manhãs de cantorias). E assim sucumbimos, se preciso o for, mas disfarcemo-nos - nem que seja por amor! Assim seja!
Marcelle.
Um abraço na varanda!

domingo, setembro 23

Heresia da Verdade

(ou para os menos generosos: Amarguras da auto-exigência)







Enfastiada




Inundada até a boca,




cheia d'água!







Os fluxos se invertem




Bebo e não obedeço à lei da gravidade!




Parece que transbordo pelos olhos...




Qual o quê!




é água que jorra de total enfastio




O tédio é de excesso de verdade!




Verdade não generosa do outro que julga




com o olho cego de seu próprio rabo.







Toda verdade é consistente,




e como tal impermeável.




Nos coloca portanto em terreno infértil.







Aprendi que ser humilde é estar no nível do húmus




terra aberta e fértil.




Mas a verdade é rocha dura,




que reflete a luz ofuscante dos que estão acima de...




sem chances!




Não há coração na miséria da implacável verdade.




Seu mundo é sem misericórdia!




É disso que careço nas nossas postulações verdadeiras.




Não me refiro à qualquer verdade.




Mas aquela abjeta,




interdito posto entre pessoas,




cujo dito escalona olhares que tudo pretendem sobre mundos sem alcance,




mas ambcionadas pelo colonizador.

Num sutil deslize, entregamos,

pela tirania da verdade, tais íntimos territórios.




Esta verdade que




transita da ilusão da pureza pueril à arrogância tirânica

dos seus portadores.




Os postulantes se fazem puros pela verdade de suas prolatações!




É da verdade dos sepulcros caiados,




da condenação de Madalena,

a verdade que me oprime.





Foto tirada da Marcha do Imperador... quanta sabedoria a dos pingüins!
Postado por Márcia

Reafirmando as bases desta varanda!


Putz!
Que saudade da varanda!
Estou de volta... e feliz por isto!
A sensação é de dançar na chuva...
No espaço espaço do degredo.
Degredo dos que querem ver o mar!



Imagem disponível em store-intergaleria.locasite.com.br

(Des) Abafo

Ensurdeço de não falar
É um silêncio
sendo do que não digo.
Não digo por não ter o que dizer.
Dizer o injustificável na impotência.
A impotência é muda
Tem língua,
Mas, língua sem cordas
Língua sem som
Língua sem acorde
Língua sem coração
É língua sem ação
Inércia do coração
Sem corda,
se faz silêncio
Um grito pelo avesso
ao invés dos tímpanos
dói o estômago.
Grito fatalmente convertido
em merda travada.
As palavras se foram,
então,
ralo abaixo
Me deixaram em seu lugar
um preenchimento de vazio indecifrável
Viver é abafar a dor...
Escrito por mim, Márcia, em algum dia de maio de 2007. Postado hoje, após a lembrança que a varanda é lugar dos degredados, e também após ter lido Rubem Alves e Yves Leloup, heréticos assumidos, que me convenceram que Deus só se manifesta em ausências. Sintindo-me abençoada, posto também a imagem de um ser em extinção recebendo os cuidados em sua fragialidade. Foto retirada de http://bichos.uol.com.br/album/zoozoom345_21092007_album.jhtm?abrefoto=10


segunda-feira, setembro 17

Lamento...




Forjada que fosse a graça,


Secreta seguisse a chama,


Solene disfarce no passo,


Pequeno impasse em drama.



Pacata que fosse a lágrima,


Distante que fora a gana,


Aos olhos que se transpasse


O impasse que se derrama.



Pois dada que seja a farsa,


Ofegante que se faça o pranto


Dos olhos que jorram água


Do nada de meus enganos.



Do nada dos desencantos,


Do fardo de meus tormentos,


Dos atos de meus espantos,


Das lágrimas que eu lamento.



Lamento, se por acaso,


Os rastros já não compensam,


Se as lágrimas que já se arrastam


Disparam, disfarçam e lamentam...



(Marcelle 1997)












DIRETO DO ESCONDERIJO ENTRE AS MONTANHAS ÀS PÁGINAS SEGUINTES - AVANTE!





Dez anos se passaram e minha história fui escrevendo de trás pra frente... O que fazer se o que tenho a trazer são estes escritos? O que escrever pra mudar o final da história? Cabe a mim? Às vezes prefiro entregar canetas à espera que escrevam comigo... Mas poucos o sabem fazer de fato... E os que escreveram parecem não alcançar-me mais. Registro, hoje, isto aqui na expectativa de que nos próximos dez anos não me reste tão pouco como agora: o extremo vazio das páginas relidas e sem final feliz... Porque apesar de ser feliz, gostaria de pintar outras cores nas próximas páginas como se esperasse então que alguém me aparecesse com um novo "jogo" de canetas e me surpreendesse a rabiscar desenhos ao invés de poesias pra contrariar meus sonhos e invadir-me de paz, porque "a paz que procuro" não se escreve..., nem se visita em cenários, mas na musicalidade das diferentes notas a compor uma única melodia... Na singularidade das almas calejadas e na diversidade das mãos unidas... Na sensibilidade com que se lê o que ninguém escreve e se interpreta o que ninguém disse, porque a linguagem dos anjos se compõe de gestos e não de verdades, assim como a graça da bailarina se traduz nos movimentos e não na coleção das dores musculares... Não! Eu não esperava que fosse renascer sem dor, nem ter chegado ao fim da corda bamba... Aceitei o desafio de recriar novos mundos sim, mas implorava por trégua... Lamento as rasteiras, mas não vou rastejar novamente só pra não sentí-las porque prometi-me ainda perder o fôlego muitas vezes e amar é quase uma necessidade minha... E o que tiraram de mim, não roubarei de ninguém porque a moeda de troca simplesmente não é troco que se mereça... Por hora, lamento! Lamento a frustração das páginas que relerei sem títulos, assim como tudo foi ficando sem sujeito... Lamento a história mais desrimada e a saga que me persegue - parece-me que escrita previamente por mim mesma! Mas despeço-me de cabeça erguida, certa de que "amor a se fazer é tão prazer que é como se fosse dor..." - já diria Elis Regina.

E que me encontrem no caminho muitas cores novas, muitas canetas cheias de sonhos, muitos arco-íris a seguir, porque definitivamente a luz que tínhamos era minha e foi ofuscada demais...

- Agora, por hora, ainda lamento!


Texto nascido em 26 de agosto de 2007 - Teresópolis-



entitulado Libertação -









Marcelle



Imagem retirada de www.john-howe.com/portfolio/gallery/data/medi

sábado, setembro 1

Para falar o que realmente importa...


O GLOBO, 31.08.2007

Elefante viciado em heroína é desintoxicado na China

PEQUIM. Um elefante viciado em heroína por tratadores ilegais será devolvido ao seu habitat em breve, após ter passado por um tratamento de desintoxicação, à base de abstinência. Big Brother vivia com sua manada na fronteira entre China e Mianmar, na província de Yunnan, quando foi capturado por traficantes de animais em 2005, revelou o ontem o jornal “China Daily”.

“Para controlar o animal de modo que ele guiasse a manada para onde eles queriam, o traficantes o alimentaram com bananas recheadas com drogas”, disse o jornal. Os bandidos, graças a uma denúncia, foram presos em flagrante, tentando vender Big Brother e sua manada. Mas, àquela altura, o elefante já havia desenvolvido dependência por heroína, ameaçando as pessoas que se recusassem a alimentá-lo com o produto, disse o jornal, citando fontes da polícia chinesa.

Big Brother teve que ser transportado para um centro especial, na província de Hainan, para tratamento de desintoxicação.

O animal resistiu e até arrebentou uma corrente de ferro, disse o “China Daily”. Ele foi tratado durante um ano, até ser considerado reabilitado e pronto para ser devolvido a seu habitat natural.

Na Índia, animal rapta aliá de circo

NOVA DÉLHI. Já o jornal de “Times of India”, de Nova Délhi, revelou na quarta-feira que um elefante solitário invadiu o estábulo atrás de uma aliá, na cidade de Raniganj, no estado de Bengala. O animal derrubou as frágeis paredes do estábulo e se apaixonou por uma das quatro fêmeas do circo, Savitri, que acabou fugindo com ele. O jornal disse ainda que outra aliá, muito próxima de Savitri, caiu em depressão com a fuga da companheira.


Foto retirada de http://www.blogoteca.com/orefraneiro/index.php?mes=5&ano=2006. No blog não há a origem da fotografia, porém sei que na Indonésia foram construídos banheiros públicos para os elefantes, diante da ameaça de extinção frente o crescimento da indústria do turismo. Postado por Márcia

sábado, agosto 11

O melhor show de todos os tempos...



Desculpem-me os diferentes gostos, mas o melhor é o que emociona mais... A musicalidade com que esta mineira presenteia cada poesia feita, a interpretação, o trabalho corporal, o cenário, luzes, voz, piano (!) ..., desculpem-me! - Silêncio! Deixa entrar...
Só tenho mais um sonho nos meus 26/27 anos: ver minhas poesias trabalhadas e cantadas por este mito... Mas silêncio... Não que possa fugir, mas é que qualquer ruído pode atrapalhar o que ela causou em mim ali pessoalmente... "Não que eu não queira reviver nenhum passado, nem revirar o sentimento revirado", mas deixa entrar o que não vai mais sair...
Um dia farei como hoje - relembro com grande saudade e soberania o que me permiti viver e aceitar... E não cansarei de olhar em memória o que foi bom e o que nunca voltará a ser, mas o que me brindou naqueles momentos! Não arrependerei-me... Reviverei sempre o que foi meu... Só peço silêncio... - Silêncio! Esta tal de Ana Carolina continuou escrevendo o que tive que parar de escrever... Ela não me conhece, nem conhecerá... Nunca saberá que sou fã de muito poucos em diversas áreas - não por exigência ou arrogância, mas ao contrário - talvez por nem sabê-los tão bons... Talvez por não ver nos mitos seus (leitores meus) a sensibilidade que me desvia os olhos a esta poeta... Porque há muito nada me toca como as músicas que os anjos pediram que ela escrevesse por mim, pra alguém que nem sabe e nem existe mais... Mas que existe lá atrás apesar de todas as novidades que me seduzem hoje, e que me acusava de lhe olhar profundamente...
- Desculpe, silêncio, deixem entrar porque não são de palavras rebuscadas e de rimas difíceis que construímos as nossas histórias mais bonitas e íntimas... Na verdade, elas são "simples"... E o simples regado a arte e bom gosto é o que nos perpetua... Assim "somos" de fato!
Obrigada!

segunda-feira, julho 23

O vôo da Gaivota II - O Adeus!



Um belo dia, adentrei um dos quartos do HCor e inadvertidamente, durante o exame físico de um dos meus mais queridos pacientes, ouvi em meio às bulhas de seu coração, uma poesia recitada ao fundo... Logo de início pensei: teria ainda pessoas neste mundo sensíveis a este ponto? Sou mesmo tão felizarda que me aconteça mesmo durante o trabalho ser tocada desta forma? Será que o Sr Ângelo soubera de alguma forma o quanto sou apaixonada pelas rimas sentidas? Não! Certamente ele seria mesmo especial e quis inovar... Quis fazer uma alusão quanto aos "homens de estranha coragem entoando seus cantos nesta terra..." de forma no mínimo criativa...

Retribuo-lhe a metáfora com o vôo da gaivota... Inesperadamente hoje, recebo a notícia de que o coração do Sr Ângelo Bottaro deixou de cantar... Sem despedidas, sem por quês, apesar do cansaço de uma insuficiência que lhe abatera... Tratamento seguido à risca, cuidados familiares desmedidos... Inesperado como chegou a meus ouvidos: tal notícia e a poesia de outrora... Inexplicável como há de ser ter que partir...

- "Medo de morrer? Não tenho, porque sei que um dia vou morrer e todos nós vamos. Só que NÃO QUERO morrer, entende doutora?"

Sr Ângelo Bottaro - julho de 2007



- Entendo, Sr. Ângelo! - "Homem de estranha coragem" ! Deixarei-o viver em meu coração! Esteja com Deus!

Marcelle





Imagens: sentimientos.jubiiblog.com.es/upload/lagrima.jpg

www.overmundo.com.br

quinta-feira, julho 19

"Vou-me embora pro passado"


























Vou-me embora pro passado














Lá sou amigo do rei














Lá tem coisas "daqui, ó!"














Roy Rogers, Buc Jones














Rock Lane, Dóris Day














Vou-me embora pro passado.














Vou-me embora pro passado














Porque lá, é outro astral














Lá tem carros Vemaguet














Jeep Willes, Maverick














Tem Gordine, tem Buick














Tem Candango e tem Rural.














Lá dançarei Twist














Hully-Gully, Iê-iê-iê


















Lá é uma brasa mora!














Só você vendo pra crê














Assistirei Rim Tim Tim














Ou mesmo Jinne é um Gênio














Vestirei calças de Nycron














Faroeste ou Durabem














Tecidos sanforizados














Tergal, Percal e Banlon














Verei lances de anágua














Combinação, califon














Escutarei Al Di Lá














Dominiqui Niqui Niqui














Me fartarei de Grapette














Na farra dos piqueniques














Vou-me embora pro passado.














No passado tem Jerônimo














Aquele Herói do Sertão














Tem Coronel Ludugero














Com Otrope em discussão














Tem passeio de Lambreta














De Vespa, de Berlineta














Marinete e Lotação.














Quando toca Pata Pata














Cantam a versão musical














"Tá Com a Pulga na Cueca"














E dançam a música sapeca














Ô Papa Hum Mau Mau














Tem a turma prafrentex














Cantando Banho de Lua














Tem bundeira e piniqueira














Dando sopa pela rua














Vou-me embora pro passado.














Vou-me embora pro passado














Que o passado é bom demais!














Lá tem meninas "quebrando"














Ao cruzar com um rapaz














Elas cheiram a Pó de Arroz














Da Cachemere Bouquet














Coty ou Royal Briar














Colocam Rouge e Laquê














English Lavanda Atkinsons














Ou Helena Rubinstein














Saem de saia plissada














Ou de vestido Tubinho














Com jeitinho encabulado














Flertando bem de fininho.














E lá no cinema Rex














Se vê broto a namorar














De mão dada com o guri














Com vestido de organdi














Com gola de tafetá.














Os homens lá do passado














Só andam tudo tinindo














De linho Diagonal














Camisas Lunfor, a tal














Sapato Clark de cromo














Ou Passo-Doble esportivo














Ou Fox do bico fino














De camisas














Volta ao Mundo














Caneta Shafers no bolso














Ou Parker 51














Só cheirando a Áqua Velva














A sabonete Gessy














Ou Lifebouy, Eucalol














E junto com o espelhinho














Pente Pantera ou Flamengo














E uma trunfinha no quengo














Cintilante como o sol.














Vou-me embora pro passado














Lá tem tudo que há de bom!














Os mais velhos inda usam














Sapatos branco e marrom














E chapéu de aba larga














Ramenzone ou Cury Luxo














Ouvindo Besame Mucho














Solfejando a meio tom.














No passado é outra história!














Outra civilização...














Tem Alvarenga e Ranchinho














Tem Jararaca e Ratinho














Aprontando a gozação














Tem assustado à Vermuth














Ao som de Valdir Calmon














Tem Long-Play da Mocambo














Mas Rosenblit é o bom














Tem Albertinho Limonta














Tem também Mamãe Dolores














Marcelino Pão e Vinho














Tem Bat Masterson, tem Lesse














Túnel do Tempo, tem Zorro














Não se vê tantos horrores.














Lá no passado tem corso














Lança perfume Rodouro














Geladeira Kelvinator














Tem rádio com olho mágico














ABC a voz de ouro














Se ouve Carlos Galhardo














Em Audições Musicais














Piano ao cair da tarde














Cancioneiro de Sucesso














Tem também Repórter Esso














Com notícias atuais.














Tem petisqueiro e bufê Junto à mesa de jantar














Tem bisqüit e bibelô














Tem louça de toda cor














Bule de ágata, alguidar














Se brinca de cabra cega














De drama, de garrafão














Camoniboi, balinheira














De rolimã na ladeira














De rasteira e de pinhão.














Lá, também tem radiola














De madeira e baquelita














Lá se faz caligrafia














Pra modelar a escrita














Se estuda a tabuada














De Teobaldo Miranda














Ou na Cartilha do Povo














Lendo Vovô Viu o Ovo














E a palmatória é quem manda.














Tem na revista O Cruzeiro














A beleza feminina














Tem misse botando banca














Com seu maiô de elanca














O famoso Catalina














Tem cigarros Yolanda














Continental e Astória














Tem o Conga Sete Vidas














Tem brilhantina Glostora














Escovas Tek, Frisante














Relógio Eterna Matic














Com 24 rubis














Pontual a toda hora.














Se ouve página sonora














Na voz de Ângela Maria"














— Será que sou feia?














— Não é não senhor!














— Então eu sou linda?














— Você é um amor!














..."Quando não querem a paquera














Mulheres falam: "Passando,














Que é pra não enganchar!"














"Achou ruim dê um jeitim!"














"Pise na flor e amasse!"














E AI e POFE! e quizila














Mas o homem não cochila














Passa o pano com o olhar














Se ela toma Postafen














Que é pra bunda aumentar














Ele empina o polegar














Faz sinal de "tudo X"














E sai dizendo "Ô Maré!














Todo boy, mancando o pé














Insistindo em conquistar.














No passado tem remédio














Pra quando se precisar














Lá tem Doutor de família














Que tem prazer de curar














Lá tem Água Rubinat














Mel Poejo e Asmapan














Bromil e Capivarol














Arnica, Phimatosan














Regulador Xavier














Tem Saúde da Mulher














Tem Aguardente Alemã














Tem também Capiloton














Pentid e Terebentina














Xarope de Limão Brabo














Pílulas de Vida do Dr. Ross














Tem também aqui pra nós














Uma tal Robusterina














A saúde feminina.














Vou-me embora pro passado














Pra não viver sufocado














Pra não morrer poluído














Pra não morar enjaulado














Lá não se vê violência














Nem droga nem tanto mau














Não se vê tanto barulho














Nem asfalto nem entulho














No passado é outro astral














Se eu tiver qualquer saudade














Escreverei pro presente














E quando eu estiver cansado














Da jornada, do batente














Terei uma cama Patente














Daquelas do selo azul














Num quarto calmo e seguro














Onde ali descansarei














Lá sou amigo do rei














Lá, tem muito mais futuro














Vou-me embora pro passado!

http://www.releituras.com/jessierq_menu.asp

sexta-feira, julho 13

O outro lado da minha moeda...







"Um dia o Senhor acendeu



O farol das estrelas



Para uma terra bonita, feliz e selvagem,



Onde homens de estranha coragem



Entoavam seus cantos de guerra,



Onde a Lua dormia nos rios



E o silêncio morava nas serras...




Nesta noite feliz e serena,



O Senhor descansou...



E na Terra bonita e liberta



A semente jogou (e brotou!),



E o chão que servia de berço às bandeiras



São Paulo chamou!




São Paulo, estrela do céu,



A minha Pátria revelaste ao bandeirante audacioso



O segredo do Brasil maravilhoso...




São Paulo,


Sem preconceito de raça,


Sem preconceito de cor,


Povo simples, mas viril...


Seu coração está batendo


Ao mundo inteiro dizendo:


São Paulo é o coração do Brasil!"







Autor desconhecido;

Porém recitado pelo Sr. Angelo Bottaro
no Hospital do Coração,
com exímia maestria em declamar,

com imenso orgulho de São Paulo como se o autor o fosse!










" Uma gaivota no céu, um sonho na terra. E ambos, a gaivota e o sonho, voam livres. Percorrem o espaço, navegando entre as nuvens, perseguindo um destino que jamais alcançarão.


Porque os sonhos, como as gaivotas, abrem as suas asas todos os dias, para uma viagem infinita.
E, quando algum tomba sobre a terra, eis que outro o substitui na eterna busca.


Assim como podemos apenas acompanhar o vôo da gaivota, apenas podemos sonhar os nossos sonhos. E, em um e outro caso, não nos cabe determinar o seu rumo, mas tão somente admirar a beleza do seu vôo.

E não será este o seu encanto?

Acaso, o homem admira as coisas que pode controlar? Ou deseja aquilo que já considera seu?



Não são os nossos sonhos uma forma de alcançarmos aquilo que nos falta? E o que neles nos atrai não é a promessa de felicidade que julgamos existir no seu mistério?


Em todos os dias, as gaivotas dos nossos sonhos sobrevoam a praia da nossa realidade. E, distraídos a acompanhar o seu vôo, muitas vezes não percebemos a beleza do mar, nem desfrutamos a carícia do vento.



Entretanto, o mar e o vento existem. E basta que os procuremos, para que possamos sentir a sua presença; e, neles, encontrar o refrigério que buscamos ao acompanhar o vôo da gaivota.



Assim, o homem se encanta pelos diamantes. E não percebe que a fonte de sua beleza está na luz que os banha; a luz que faz brotar os mesmos reflexos de uma simples gota d’água, ou de um pedaço de vidro esquecido a um canto.



Entretanto, é assim que somos. Sempre sonharemos a felicidade e, absortos neste sonho, muitas vezes a deixaremos de ver ao nosso lado.



Sempre, apreciaremos o vôo da gaivota. E esqueceremos de agradecer à distância, que não nos permite vê-la como a simples ave que é.



Sempre, nos encantará o arco-íris. E sonharemos com o tesouro ao seu término, esquecidos das gotas que o formam.





Sempre, desejaremos algo novo. E, tão logo o tenhamos conseguido, o veremos apenas como algo que nos pertence; e o esqueceremos, absortos na busca de um novo desejo.

Sempre, teremos os sonhos ...

as gaivotas dos nossos desejos. "














Autor também desconhecido, e eu dedico este texto a vocês que construíram minha história e são a coragem de meus vôos... Diferente de muitos, eu não procuro os diamantes, nem o tesouro ao final do arco-íris simplesmente porque eles não são nada perto das gotas de amor que vocês me entornam... E é por isso que em cada ida eu sempre volto! Sobretudo para que vejam que não sou a gaivota que vêem ao alto, mas simplesmente a mesma Marcelle que saiu de cada lugar daí de dentro, com os sonhos tecidos parece que pelo vento e, como o vento e, com o vento que vai e volta... Senão, definitivamente não há motivo pra continuar voando... AMO VOCÊS!

Imagens: www.al.sp.gov.br - A bandeira de São Paulo.

somostodosum.ig.com.br - O vôo da gaivota - de Wagner Borges