Descobri que não sei nada de mim...
Clara, noite rara, nos levando além
da arrebentação
Já não tenho medo de saber quem somos
na escuridão.”
Interstício, lugar de passagem. Aqui nesta varanda, nos entreolhamos refletidos. Um lugar entre o público e o privado, Um espaço entre o aberto e o fechado. O oculto e o revelado. Na varanda, no passado projetava-se o futuro. As pessoas se viam, se riam, se abraçavam... No degredo, o auto-exílio de passagem. A Casa Sincera! A queda tão necessária para ver o mar! A precipitação da semente para brotar! Aqui nos encontramos...
Porque o mistério da vida está em acordar e ver O SOL PREGUIÇOSO DA MANHÃ. Os raios meio que de lado, fingindo que estão dormindo, esperando eu acordar. O SOL, doido pra me ver e mais: para ser percebido!
Ontem me aborrecera porque ele se foi e tem que ir sempre, mesmo quando me abro e o sinto dentro de mim... Mas aí ele volta mesmo quando estou aborrecida com esta ida e volta descabida; com este ensaio repetitivo das ondas que não vão a lugar nenhum; com esta roda nada humorística, que me cansa e afasta da paz que procuro.
Aí descobri que não adiantava mais pedir pra ele ficar mesmo quando eu mais queria, só mais um pouquinho... Porque sempre me contentara assim em não sendo digna de "controlar" um astro tanto tempo...
A partir de então passei a me despedir quando a tarde caía, já com saudade... Sabia que seria em vão, mesmo que eu implorasse, prendesse alguns raios num potinho de ouro ou coisa parecida.
Aprendi que não importa o tamanho da minha dor, o adeus é necessário mesmo que amanhã eu não esteja neste mundo pra ver o mesmo sol, já nascido, me encantar preguiçoso... Não sei se meus olhos leriam esta beleza, se minhas pernas me conduziriam a encontrá-lo lá fora, se minha pele de tão branca se recordaria do ruborizar-se desmedido, bronzeante - diria.
Mas em dias tristes, minha sorte é que anoitece. Não pela crença de que estarei feliz como ontem no novo nascer do sol, mas pelas sensações de passagem e desistência, tão necessárias, tão saudáveis e íntimas.
Por hora apenas me pergunto por que o sol tinha que ser AMARELO!?! A única palavra em inglês que rima com sua tradução na nossa língua, e que despediu-se a tempo dos meus poemas, porque as línguas não se combinavam...
- É que a leitura era outra.
Marcelle.
Imagem: inoutyou.blogs.sapo.pt/70256.html
Pronto! Voltei a escrever porque voltei a me emocionar... Senão pelos dias cheios de Luz que Deus tem me concebido, pelo amor ao meu trabalho que ainda existe quando não me repele em exaustão, pela natureza quase morta de sensibilidade aflorada nas pequenas atitudes, mas pela ARTE!
Das minhas doídas despedidas, eu sempre volto quando me invocam... E este grupo me invocou esta semana a escrever. Senão pela tristeza da ausência de tudo isto me remete, senão pela natureza sentida ali junto, senão por querer voltar no tempo e me tornar parte de certa forma... ESCREVI.
E escrevendo retomo esta varanda abandonada apenas para dizer que a felicidade existe se soubermos ter olhos para lê-la ao nosso lado, na semelhança que procuramos, na harmonia dos olhares e mais nada!!!
Às minhas amigas Márcia e Juliana, muito obrigada por respeitarem mais este tempo meu! Estou aqui onde sempre estive, com mais saudades do que nunca!
Marcelle.
" Todos são tão compreensivos, aceitam tão bem suas escolhas, torcem por tudo que você faz, não é mesmo? Desde de que você faça o que esta no script. Que siga o que foi determinado no roteiro, aquele que foi escrito sabe-se lá por quem e homologado no instante mesmo em que você nasceu. Mas e quem não quiser seguir esse script?
Em dezembro próximo, serão completados trinta anos da morte da escritora Clarice Lispector, que entendia de subversões emocionais. Fui convidada a participar de um evento que a homenageia, em Porto Alegre, e em função disso andei relendo algumas de suas obras e encontrei no conto "Amor", do livro "Laços de Família", uma de minhas frases prediletas. Assim ela descreve o sentimento da personagem Ana: "Seu coração enchera-se com a pior vontade de viver". Ela é complexa, angustiante, subjetiva e intensa. Ela, a pior vontade de viver. A que não está disposta a negociar com a vontade dos outros.
No entanto, essa que foi chamada a "pior vontade" pode ser também uma vontade genuína e inocente. É a vontade da criança que ainda levamos dentro, entranhada. É o desejo de açucar, de traquinagem, de fazer algo escondido, de quebrar algumas regras, de imitar os adultos. A "pior" vontade é curiosa, quer observar pelo buraco da fechadura e depois, mais ousadamente, abrir a porta e entrar no quarto proibido. A "pior" vontade é a de não se enraizar, não assinar contrato de exclusividade, não firmar compromisso, não render-se ás vontades fixas, apenas às vontades momentâneas, porque as fixas correm o risco de deixar de serem vontade para se transformarem em vaidade - como se sabe, há sempre aquelas que se envaidecem da própria persistência.
A "pior" vontade não quer ganhar medalha de honra ao mérito, não quer posar para fotografias, não quer completar bodas de ouro nem ser jubilada. A "pior" vontade não faz a menor questão de ser percebida, ela quer ser realizada. É quando você sabe que tomarão como agressão, mas arrisca. Aqui, cabe lembrar: apenas se sentem agredidos aqueles que te invejam. A vontade oficial, a vontade santinha, a que não causa incômodo é a outra, a aprovada pela sociedade, a que não leva em conta o que vai no seu íntimo, e sim a opinião pública. É a vontade que todos nós, de certa forma, temos de mostrar para os outros que somos felizes, sem saber que para conseguir isso é preciso, antes, ter a "pior" vontade, aquela que faz você descobrir que ser feliz é ter consciência do efêmero, é saber-se capaz de agarrar o instante, é lidar bem com o que não é definitivo-ou seja, tudo.
É com essa "pior" vontade de viver que você atrai os outros, que seu magnetismo cresce, que seu rosto rejuvenesce e que você fica mais interessante. É uma pena que nem todos tenham a sorte de deixar vir à tona esta que Clarice Lispector chamou de a pior vontade de viver, que, secretamente, é a melhor. "
(Martha Medeiros)
Postado por Marcelle
Imagem: www.rpgonline.com.br/.../galeria/91188_Fogo.JPG
"Essencial é ter paixões e amigos. Para acumular esses bens Vinícius de Moraes zerava-se, renovava seus votos a cada dia. Isso a custo altíssimo. O simples nunca foi fácil para quem tem um coração no lugar onde muitos possuem gelo. As pedras de gelo de Vinícius estavam onde tinham que estar, no seu copo. Entre sobreviver e viver há um precipício e poucos encaram o SALTO. Vinícius diria: - Vai, vai viver."
Juliana Gonçalves
Publicado por Marcelle, em agradecimento a tudo que esta amiga-irmã significa pra mim... Assim recomeço após o grande salto: aprendendo a viver com os que admiro tanto! Continuemos como Vinícius - ídolo comum. Zerando e deixando acelerar o que trazemos no peito, saboreando o gelo no melhor lugar dele... Custe o que custar... Porque é preferível viver que se esconder! E machucar-se que não saltar... As águas de Cabo Frio me entraram na alma!
Imagem: papagaio.files.wordpress.com/2007/04/mar.jpg
Se aos teus sonhos outros sonhos tu somares
Sob a espera da presença do irreal,
É porque estás além dos patamares
Dos arautos da frieza universal
Continua o teu sonho e não te ponhas
Na linhagem dos pétreos, sem sorriso,
os Anjos te assistem enquanto sonhas
E na terra te preparam um Paraíso...
Benditos sejam os sempre sonhadores,
Fiéis aos passes de mágicos atores,
Que transformam o devaneio em realidade
Quem não sonha do seu chão não tem ciúmes,
É incapaz de lutar contra os costumes
Que corrompem os ideais de Liberdade...
Olavo Drummond
Lute e realize seus sonhos.
Inove em 2009
Imagem: brisas.blogs.sapo.pt/16764
... Just because "I'd put my spirit to the test..."!!!
And that's all...
Marcelle Araujo