terça-feira, dezembro 26

Pensando 2007...

Levante


Marisa Monte
Composição: Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte, Seu Jorge


Nada de mais

Velhos sinais

Sobre a paisagem

Planos gerais

Rastros atrás

E avante, a estrada

Mas pra sacudir levante

Mais puro é o amor

Mais puro é o amor

Vejo os jornais

Não sei que lá

Não sei de nada

Tudo normal

Nas marginais

E nas fachadas

Mas pra sacudir levante

Mais puro é o AMOR

Mais puro é o AMOR

Imagens obtidas, na seqüência, em: http://nelsondaires.weblog.com.pt/arquivo/cat_enclosure.html; www.sandowmuseum.com e http://www.heidelfoto.de/akt/akt1/akt1jpg/akt035.jpg

sábado, dezembro 23

Inspirações natalinas IV: a derradeira!


Natal Tropical

Frei Betto (pelas mãos de Adélia)

Neste Natal, acolherei Deus no meu quintal, lá onde cultivo hortaliças e legumes, e darei a ele mudas de ora-pro-nóbis, coisa boa de se comer no ensopado de frango.

Mostrar-lhe-ei minha coleção de vitupérios e, se quiser, cederei a minha rede para que possa descansar das desditas do mundo.

Se Maria vier junto, vou presenteá-la com rendas e bordados trazidos do sertão nordestino, porque isso de aparecer senhora de muitas devoções exige muda freqüente de trajes e mantos, e muita beleza no trato.

Que venha Deus, mas venha amado, pois ando muito carente de dengos divinos. Não pedirei a ele os cedros do Líbano nem o maná do deserto. Quero apenas o pão ázimo, um copo de vinho e uma tijela de azeite de oliva para abrilhantar os cabelos. Cantarei a ele os cantos de Sião e também um samba-canção.

Tocarei pandeiro e bandolim, porque sei das artes divinas: quem pontilha de dourado reluzente o chão escuro do céu, e provoca o cintilar de tantas luzes, faz mais que uma obra, promove um espetáculo. Resta-nos ter olhos para apreciar.

Imagem obtida em http://www.apbp.com.br/cartoes_natal.asp

Inspirações natalinas III








Fiz deste poema a minha saudação de Feliz Natal deste ano de 2006.

Explico: há muito, o nascer e o morrer, são binômios inseparáveis na minha vida, ao contrário de dois momentos distintos: o inaugural e o derradeiro, dos quais originam certidões e rituais.

Ressignificar a morte, exigiu de mim, também ressignificar o nascimento.

Se nasço para algo, para outrem morro! Não há nascer sem renúncias! Não há conquistas, sem desapego!

Ainda penso que o melhor Natal é quando o Cristo, numa mística, em mim nasce!

Para pensar que isto é humanamente possível, tenho como modelo Francisco de Assis, grande natalino cristão!

Trazer o natal para dentro de mim, isto que me modifica!

Que em 2007 saibamos "velar, falar baixo, pisar leve, dizer uma canção sobre o berço" em que ninamos os nossos sonhos!

Que cada vez mais aprendamos discernir sobre o que deve morrer, para que um outro nasça! Discernir por quem, ou pelo quê é digno sofrer, para que, não obstante a tristeza, sejamos felizes!

Acho que era Drummond que dizia que a tristeza dele não se opunha à felicidade. Assim quero aprender a ser. Uma feliz triste pelo que vale a pena!

Feliz enquanto substantivo e triste como adjetivo, mas só pelo que é merecido e necessário.

É o que eu desejo para todos e todas, especialmente para mim mesma: este aprendizado natalino (curso ininterrupto e presencial), para que faça sentido, e seja para mim digno, estar por aqui!
Álbum de fotografia UOL.

Companhia
Pilobolus.
Poema de Natal

Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos...
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos...
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, verA noite dormir em silêncio.
Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez de amor
Uma prece por quem se vai.
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte ...
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem;
da morte, apenas
Nascemos, imensamente!

Imagem obtida pelo telescópio Hubble. Álbum UOL. Trata-se da estrela Pismis 24-1, uma integrante jovem e brilhante de um conjunto de estrelas chamado Pismis 24, que fica a 8.000 anos-luz da Terra.Medidas iniciais atribuíram a ela uma massa de cerca de 200, possivelmente 300 vezes a do Sol, um volume extraordinariamente alto, pois estrelas desta massa normalmente ocupam partes do cosmos que são coalhadas de estrelas. Novas observações de uma equipe de astrônomos chefiada por Jesus Maiz Apellaniz, do Instituto de Astrofísica de Andaluzia, na Espanha, mostraram que a Pismis 24-1 é, na verdade, uma estrela dupla e muitos acreditam que seja tripla. Nem os grandes astros são solitários, como por vezes parecem!

Inspirações natalinas II



Memórias



De quando eu nasci


Não me recordo o anjo que me veio


Chego a me perguntar se


Naquela madrugada de 68


Havia algum anjo


disponível.


Nasci entre tremores de terra na planície,


Mimos exóticos de


jacaré domesticado por meu avô


E perdas sentidas do gato eletrocutado e
acudido debaixo do chuveiro.



(Havia um certo “ar” de eletrocussão, o gato era apenas um prenúncio)



Vésperas do AI-5


Ditadura desmascarada


Pos factum do maio francês


Cujas leituras tão díspares


Marcam ainda meu ser.



O anjo que me assistia


Não era nem safado, nem torto,


Certamente!


Penso que, talvez rouco, moco


Pois seu decreto ainda não escutei.



Na moca-louca aventura de viver


Aprendi a fazer-me surda


Pois nem toda palavra que pinga


É fonte de florescer.



Também,


Nem toda inaudição é nada.


Por vezes o silêncio comunica,


Por quem o faz, ou por quem o recebe.


Desprezo às palavras do anjo?


Imagina!?


Controle da sede da palavra que não chega!


Palavra-inteira, palavra-mundo,


Palavra-AMOR, que me sacia e liberta.

Márcia, 22/12/06.

Imagem obtida em: http://dali.urvas.lt/page18.html

Geopoliticus Child Watching the Birthof a New Man

(Criança geopolítica assistindo o nascimento do Homem Novo) Fantástica tela de Salvador Dali.

Inspirações natalinas I

Imagem do Rio Paraíba do Sul retirada de: www.geology.hpg.ig.com.br




Meia Luz


Nasci sob os auspícios da constelação de Libra.


Também estava proscrito o crepúsculo de Câncer.


Nesta hora dois decursos de equinócios me marcaram


Sou astral, do sul, meridional.



A fotofobia é marca do corpo


Nascido e projetado à meia luz.


Minha aurora é libriana,


No primeiro ciclo primaveril.



Minha alvorada é canceriana,


No último ciclo outonal.


Olhos sensíveis, exigentes de penumbra.


Luz demais me ofusca.



À meia luz tudo é desejo, querer saber.


Assim nasci,


Sob a constante busca do equilíbrio.


E morro a cada descarte do que em mim excede.



Machado quase me leva com seu triangular primaveril.


Mas Drummond adverte-me autunalmente:


“Em maio tantas vezes morremos”.


Prefiro então o frescor vernal:


“Em setembro tantas vezes nascemos”.



Abaixo do Equador,


Sou filha da bacia nova, novíssima!


Litorânea, de limite.


Plástica, dobra-se aos meus olhos.



Na planície nova, há brisa ainda,


E eu dobro-me diante dos seus ares.


Sou como sedimentos aluvionais.


Ainda há muito a ser moldado!



“Oh, Rio Paraíba dos meus sonhos!


Leva a minha mágoa para o mar...”


Sou grumossolo, argila.


Rocha maleável, se molhada, e flexível!


Dureza é minha propriedade seca.



Sou também rocha secundária, e


Disto me orgulho!


Sou derivada e não derivante.


E isto me põe em movimento.



Do nascente ao poente.


E quando poento, poeto, ponho fim na eternidade.


Não me repito.


Sou sendo, poendo as cordas do universo,


Que me faz verso, que me faz prosa.



Márcia, 22/12/2006

sexta-feira, dezembro 22

Saudades...


Veja Bem, Meu Bem

Los Hermanos
Composição: Marcelo Camelo


Veja bem, meu bem

Sinto te informar que arranjei alguém

pra me confortar.

Este alguém está quando você sai

E eu só posso crer, pois sem ter você

nestes braços tais.


Veja bem, amor.

Onde está você?

Somos no papel, mas não no viver.
Viajar sem mim, me deixar assim.

Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins.


Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.

E eu nunca vou te esquecer amor,

Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.


Veja bem além destes fatos vis.

Saiba, traições são bem mais sutis.

Se eu te troquei não foi por maldade.

Amor, veja bem, arranjei alguém

chamado saudade.



Márcia (imagem disponível em http://pensadora2.blogs.sapo.pt/arquivo/abraco.jpg)

domingo, dezembro 17

Saudades da Varanda e reencontrando A. Prado

A face de Deus é vespas
Queremos ser felizes.
Felizes como os flagelados da cheia,
que perderam tudo
e dizem-se uns aos outros nos alojamentos:
'Graças a Deus, podia ser pior!'
Ó Deus, podemos gemer sem culpa?
Desde toda a vida a tristeza me acena,
o pecado contra o Vosso Espírito
que é espírito de alegria e coragem.
Acho bela a vida e choro
porque a vida é triste,
incruenta paixão servida de seringas,
comprimidos minúsculos e dietas.
Eu não sei quem sou.
Sem me sentir banida experimento degredo.
Mas não recuso os marimbondos armando suas caixas
porque são alegres como posso ser,
são dádivas,
mistérios cuja resposta agora é só uma luz,
a pacífica luz das coisas instintivas.
Adélia Prado

domingo, dezembro 10

Este foi o drible mais interessante que eu já vi...


... quem me dera reproduzi-lo sempre em minha própria vida!

Em nome da paz celestial...

Márcia

(desconheço a autoria da imagem)

Escreva a sua História...


Pedro Bial

Escreva a sua história na areia da praia,

Para que as ondas a levem através dos 7 mares;

Ate tornar-se lenda na boca de estrelas cadentes.

Conte a sua história ao vento,

Cante aos mares para os muitos marujos;

cujos olhos são faróis sujos e sem brilho.

Escreva no asfalto com sangue,

Grite bem alto a sua história antes que ela seja varrida namanha seguinte pelos garis.

Abra seu peito em direção dos canhões,

Suba nos tanques de Pequim,

Derrube os muros de Berlim,

Destrua as cátedras de Paris.

Defenda a sua palavra,

A vida nao vale nada se você nao viver uma boa história pra contar.

Imagens disponíveis em http://blogrevolt.blogs.sapo.pt/ e http://www.terra.com.br/voltaire/mundo/muro.htm

Não faz muito tempo eu, Márcia, ouvindo uma coletânea de poesias, pensei: se eu der isto para a Adélia era vai adorar. Pensei justament quando houvia esta poesia. Hoje, ela me enviou sugerindo que eu aqui postasse. Aí está! É a nossa cara!

quinta-feira, dezembro 7

By: Arnaldo Poesia

Hay que endurecer pero sin perder la ternura jamás...

Chê

O universo de Krishna
(desconheço ou autor)

sábado, dezembro 2

No Natal do ano passado...

...eu escrevi este texto. Naquele momento eu fervilhava de emoções e desejos. Hoje, véspera do posterior natal, mergulho em emoções brandas, tendo restado o sentido natalino, saudades de Chico e de tudo que vivia como presente de Natal naquele momento... "Foi um rio que passou em minha vida, e meu coração se deixou levar..."

Reflexões natalinas



Este ano havia me prometido: não me seduziria pelo consumo, nem tampouco pela troca de presentes...


Arrumei em minha casa uma árvore e um rizoma natalino, além de um presépio. Salvo o rizoma natalino, nenhuma novidade: a árvore é velha e o presépio também, e este, cada ano menor.


Neste ano, em especial, o presépio conviveu com um gatinho, Chico, que concorreu com o menino Jesus nas instalações do estábulo. No dia seis de janeiro o presépio será recolhido desta vez com um déficit maior, pois o gatinho não será empalhado, apesar de ter colocado o rei mago, o São José, os pastorinhos e, até o galo para dançar.


Menos para o humor retirado da rotina e não consegui fugir das reflexões natalinas. Penso que o excesso de verde e vermelho, par de cores mais vibrantes no espectro humano, deva produzir algumas reações bioquímicas que me inquietam ante a orgia degustativa natalina. A pergunta é a de sempre: estamos comemorando o quê? Por que, nem os confessos ateus, conseguem evitar o “Feliz Natal”?


Sou cristã, não mais como um ato confessional (ando sem disposições para atos de fé), mas como uma lente tecida em meu olhar, que antecedendo a qualquer credo, me fez reconhecer-me no mundo e também o mundo. Se subtraída tal lente, o mundo tornar-se-ia por demais turvo.


Partindo do pressuposto que seriam possíveis muitas respostas para as perguntas acima, escolho uma que motive tanta comilança: o Amor se fez carne entre nós. Nasceu!


Mas a resposta não me retira a inquietude. Nunca externei o meu descontentamento do AMOR ser tratado por lei a partir do NATAL cristão. Especulo e penso mesmo que deve ter havido um problema de tradução, ou até mesmo uma questão etimológica mal resolvida. Confesso que nunca estudei esta questão, mas ela há muito me inquieta: como pode o AMOR ser tratado por LEI como o faz o cristianismo? Esta é a lei: amai ao próximo como a ti mesmo!


No mundo jurídico, há o apelo para a diferenciação entre a norma e a lei, sendo a primeira, o princípio da autonomia, do que se auto determina, e a segunda o princípio da heteronomia, o que pelos outros é determinado. Ainda que o AMOR cristão fosse traduzido como norma, me restaria a questão: AMOR cabe na esfera das determinações?


Meu espírito natalino, safado e arredio, tende a conjugar AMOR e NASCER, natal e encarnação do AMOR. Nada nasce sem inseminação. No mundo vegetal, inseminar é um verbo que depende de vários sujeitos: ventos, correntes marítimas, sementes, rios, insetos, aves, sei lá! Amor é fruto? Amor é filho! Filho que nasce!


No mundo animal, inseminar depende de olhares, toques, conquista, luta, relação, perdas e ganhos, nascimento e morte. Até Maria se seduziu pelo anjo Gabriel, e se inseminou de seu sopro: e José, ao que tudo parece, participou desta história. O ato de nascer inclui dores e glórias: dói para quem pare assim como para quem nasce. Nascer é um ato de morrer! Ao nascer estrangula-se uma flor para que venha o fruto. Esvazia-se um ventre para que venha um filho. E eu ainda não consegui entender como isto pode virar uma determinação, posto que, sendo lei, não tem luz, não tem brilho, não tem sentido, não tem sabor, não tem graça natalina. E lá estou eu inseminando dúvidas...


Amar ao próximo como a ti mesmo, não tem sabor de inseminação, é lei na cultura cristã. Não sei o que Jesus Cristo disse ao proferir palavras equivalentes, mas o que andam dizendo em nome dele é ensimesmado demais para ser fértil.


Sinto que o AMOR que se converte em NATAL, nascimento, além de não caber no campo das coisas que são ditadas, requer TEMPO. Sim, amar requer tempo, sedução, cuidado, trocas, e até uma certa disposição para a dor, senão não nasce. Penso que quem tenta no AMOR só obter prazer tá f... , mas há os que insistem nesta idéia seduzidos pelo insimesmamento do utilitário “é dando que se recebe”. Neste aparte não quero ser considerada blasfema: os que me conhecem sabem que guardo a imagem de Francisco de Assim como aquele que inseminava flores e frutos sem ser motivado pelo retorno.


E isto tudo é para dizer que desejo a todos (as) que o tempo que se segue a este NATAL, seja de AMOR! (2005) Para mim também, mas um tempo de amor sem tantos delírios de alteridade!!!! Inseminando novos projetos para um feliz, sem a exclusão da necessária dor, quando couber, e numa manutenção constante de PAZ! (Márcia 2006)

Imagem obtida em: http://baixaki.ig.com.br/papel-de-parede/3151-natal.htm

sexta-feira, dezembro 1

ADOREI ISTO...




Recebi por e-mail e lavei a minha alma... por causa do que escreverei ao final...

Desconheço a origem da imagem.


UM CORDEL PARA JABOR

Jorge Filó


Este cordel que apresento

Sem nenhuma pretensão

E mesmo que lhe pareça

Ser verdadeira a versão

Ainda que eu não garanta


É uma mera ficção.


Assim começa o cordel


Justo na reflexão


Tô falando do espelho


Da nossa imaginação


Que as vezes num belo dia


Prega em nós grande lição.


Como se Arnaldo Jabor

Num exame de consciência

Um belo dia acordasse


Com toda sua eloqüência


E em conversa mostrasse

Sua verdadeira essência.




"Caros amigos leitores

Eu sou Arnaldo Jabor

Cineasta e jornalista

Direitista e traidor

Também sou um caga-pau

Xeleleu e delator.

Do clã Roberto Marinho

Sou baba-ovo da hora

Digo só o que eles querem

Creio e nego, sem demora

Sou um neo-liberalista

Por enquanto, até agora...

Um dia já fui esquerda

Era na luta engajado

No cinema brasileiro

Contestei fui contestado

Hoje meu cinema é outro

Pelo poder fui comprado.

Hoje voto na direita

No maior descaramento

Nego tudo que outrora

Mostrava em meu pensamento

Glauber Rocha tando vivo

Seria o meu tormento.

Mudei de convicções

As antigas companhias

Agora sou um amigo

Das grandes oligarquias

Digo tudo qu`eles mandam

Mentiras, patifarias.

É assim que a coisa anda

É assim que o mundo gira

Sou um lobo carniceiro

A serviço da mentira

Se eu não tirar o meu

Chega outro vem e tira.

Faço uso da palavra

Pra defender meu quinhão

Quero mais é que se fôda

Quem defende esta nação

Meu caviá garantido

Para quê preocupação.

Sou perverso no que digo

E ainda sou respeitado

Pois a mentira é quem dita

Dita por quem ta do lado

Dos grandes exploradores

Do poder televisado.

Faço do verbo navalha

Quero mais é ta por cima

Vai viver sempre enganado

Aquele que subestima

A minha capacidade

De cagar uma obra-prima.

Agora devo ir embora

Meu trabalho me espera

Vou inventar outra estória

Para parecer de Vera

E quem ler sempre acredita

Na minha nova quimera."

Este cordel esquisito

Que acabamos de ler

É fruto do pensamento

Que acabo de escrever

Me chamo Jorge Filó

Em mim você pode crer.

Um forte abraço do poeta Jorge Filó.

Recife - Pernambuco - Brasil




Por que gostei tanto?
Explico: esta semana me vi refletindo sobre o problema do mal.
Seguinte: meu amigo Halisson me repassou uma material que o próprio usou em uma apresentação acadêmica na UENF sobre o tema "A banalidade do mal", baseado na filósofa judia Hannah Arendt.
Neste texto, Arendt analisa o caso Eichmann, que trabalhou diretamente na logística da "solução final" dos judeus para viabilizar o extermínio em massa.
Sobre a pessoa de Eichmann, diz Arendt: “Os feitos eram monstruosos, mas o executante (...) era ordinário, comum, nem demoníaco, nem monstruoso” . Arendt defende, assim, que o mal de Eichmann era a irreflexão, a superficialidade.
“Clichês, frases feitas, adesão de códigos de expressão e conduta convencionais tem a função socialmente reconhecida de nos proteger da realidade, ou seja, da exigência de atenção do pensamento feita por todos os atos e acontecimento em virtude de sua mera existência” (H. Arendt)
Vivemos numa cultura de superficialidade e irreflexão, e é evidente o espaço que a perversidade ganha nesta mesma cultura.
O que o A. Jabor tem a ver com isto? Alguém já leu textos do mesmo extremamente bem escritos, nada superficiais, elegantes, sedutores, convincentes, em que ao final ele coloca o leitor, quase sempre superficial, no bolso, defendendo pena de morte, marginalização progressiva de quem já vive em estado de exclusão total, privatização da segurança (munição doméstica), e outros que no momento não me recordo.
E do ponto de vista moral: já viram como ele tipifica as mulheres? Já viram as defesas de "cornidão preventiva" masculina? Dizer que ele é mais um machista em uma sociedade machista, daria conta da irresistível vontade de ceder aos seus argumentos por tantos leitores que o mesmo arrebanha?
Seria Jabor uma reprodução global de Eichmann?
Sugiro que a gente repense a banalidade do mal quando esta é usada pela inteligência do mal.
Saudações humanistas aos humanos e não-humanos que se ressentem da propagação da perversidade.
Márcia Mérida

quarta-feira, novembro 29

Já que estamos falando sobre o TEMPO, Quintana e os relógios...

AH! OS RELÓGIOS


Amigos, não consultem os relógios

quando um dia eu me for de vossas vidas

em seus fúteis problemas tão perdidas

que até parecem mais uns necrológios...


Porque o tempo é uma invenção da morte:

não o conhece a vida - a verdadeira -

em que basta um momento de poesia

para nos dar a eternidade inteira.


Inteira, sim, porque essa vida eterna

somente por si mesma é dividida:

não cabe, a cada qual, uma porção.


E os Anjos entreolham-se espantados

quando alguém - ao voltar a si da vida -

acaso lhes indaga que horas são...

Mario Quintana

Para Marcelle e os obstáculos que sempre nos espera...

Imagem obtida em: www.oleandros.blogspot.com
POEMINHO DO CONTRA


Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho,

Eles passarão.

Eu passarinho!


Mario Quintana
Postado por Márcia

terça-feira, novembro 28

Sobre o tempo e nossa regulação...

Imagem obtida em:
http://www.stoneagescanners.com/chester/blog/archives/2005/10/horario_de_vera.html


Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante vai ser diferente.


Carlos Drummond de Andrade
Nobert Elias, em seu livro, Sobre o tempo, defende a tese que o tempo é um saber socialmente construído, sendo uma referência fundamental para a convivência humana.
Em diálogo com os físicos de seu tempo, Elias se vale da idéia predominante na Física, de que o tempo físico não existe! Conclusão pós-Einstein. Arvora-se da prerrogativa dos sociólogos, então, tratarem da questão, e demonstram que este saber, assistemático e coletivo, sintetizado no conceito "tempo", é fundamental na nossa orientação, em todos os sentidos cabíveis.
A síntese chamada "tempo", é por Elias comparada à linguagem, cujos processos de construção não reconhecemos nem exatamente a origem, nem a conclusão, pois esta não há.
Tais sínteses de conhecimentos construídos a partir de interações entre humanos e não humanos, entre necessidades e contigências, podem assumir força reguladora, coercitiva e dominante e da possibilidade de com esta força interagirmos.
Esta sacação fantástica, Drummond teve na poesia.
Também teve a Bancarrota Red, marcada por um grito de liberdade ao cronômetro...
É isto, Marcelle, abolindo a ditatura do cronômetro, do tempo pasteurizado, podemos reinventar este saber, deixando-se pertencer ao tempo dos resistentes, dos que não cedem às ditaduras, dos que são livres em espírito e corpo, e almejam viver no tempo das interações como esta que vivemos nesta varanda, que, embora sendo de passagem, marca um tempo, um tempo do exílio, que é ânsia não dos loucos, mas do que não reconhecem a ditatura do relógio como um tempo legítimo!!!
Continuemos...
Márcia

Bancarrota Red


Em meios a tantos “desastres” – meu último “talento” adquirido segundo “amigos” próximos – encontro-me exausta!
Talvez pelos tragos excedidos nestes últimos três meses – sem “goles” de cerveja associados – sinto-me quase que em insuficiência respiratória chegando ao final do segundo tempo.
Estou perdendo. Eu, e provavelmente todos que me amam vão perdendo comigo, porque não há segundo tempo em jogo solitário, só em coletivo. Tênis não tem tempo pra acabar; perde-se pela circunstância... Eu, vendo o cronômetro correndo, infelizmente sei que só depende de mim, mesmo que faltem força, ânimo, coragem, e que falte ar! Misturam-se a possibilidade da perda para as circunstâncias e o peso de não perder sozinha, numa inefável maratona em que o tempo conta e me trai! Não posso contar com ele... Queria era reinventar esta partida apelando do que julgo inédito para as evidências.
No meu velho e bom basquete éramos cinco; cinco recriando juntos as circunstâncias, nos ajudando, nos encorajando, levando por vezes à derrota alguns desconhecidos do banco e o coitado do treinador que não tinha tanta culpa assim... Sim, perdíamos juntos, por “nossa” culpa, e muitas vezes para o tal cronômetro que nos roubava a chance do “quem sabe se”...; do “de repente se”. E também vibrávamos juntos, abraçávamo-nos como se pudéssemos ocupar o mesmo lugar no espaço e não nos coubéssemos mutuamente...
Hoje é que aprecio mais os jogadores de vôlei! Jogo justo! Elitizado, diria... Reuniu circunstância, coletividade e desprezou o tal cronômetro...
Mas, como nunca quis mesmo ser “um vencedor” descubro-me não mais atleta, imposta à um jogo de tênis e com cronômetro!!! Na arquibancada? Qualquer um de plantão a rir-se do desastre próximo; apostando da minha sobrevivência à minha humilhação.
No banco: os que também amo e aos quais ao menos eu devia devolver a vitória porque cada um quer dividir do jeito que pode algum lugar comum no espaço que ocupo – independente de abraços! Nas mãos: alguns destinos, um maço, um copo de coca light, a bola e uma imagem de Nossa Senhora. À minha frente nada mais que um ponto de interrogação!
Depende das circunstâncias e que não parem o cronômetro porque ainda não terminei... Sou mais que força, ânimo, mais que coragem, sono e ar. Talvez não tenha a oportunidade de terminar no tempo certo, mas vou tentar, mesmo que eu “termine” após o fim devidamente cumprido...
- Assim perderei, ou não, com a cabeça no lugar dela e não abaixo! Porque desastre é estar na arquibancada, de mãos atadas, torcendo contra como em rinha de galo... Não sou gladiador, nem sou galo...
Hoje é que aprecio mais os cavalos! Animal justo! Diria, elitizado... Corre contra o tempo e contra o vizinho mas não lhes põe os pés na frente... Aceita as circunstâncias... Mas sobre o mundo animal converso outro dia. Senão os leões me devoram e sou jogada em restos aos porcos. Agora tenho pressa. Preciso terminar antes do cronômetro; enquanto houver ar, empurrar para prorrogação...
Aos do banco:
- Não perdi ainda não! Segurem a medalhinha, tragam mais água, um isqueiro e um lençol. Lençol para vendar meus olhos se por acaso eu fizer um ace (como aquela velha cesta de três no último minuto) e isto for um tiro de canhão na arquibancada.
Preciso vê-los arrasados não!!!

- Quero só continuar e espero que entendam!
(Marcelle - 28/11/2006)

Imagens: www.nutrinews.com.br/.../news/olhosvendados.bmp ; www.gilvanlemos.com.br www.historiadoexercito.hpg.ig.com.br ; www.kochtavares.com.br

O vencedor



Olha lá quem vem do lado oposto
e vem sem gosto de viver,
Olha lá que os bravos são escravos
sãos e salvos de sofrer,
Olha lá quem acha que perder
é ser menor na vida,
Olha lá quem sempre quer vitória
e perde a glória de chorar...
Eu que já não quero mais ser um vencedor,
levo a vida devagar pra não faltar amor
Olha você e diz que não
vive a esconder o coração
Não faz isso, amigo
Já se sabe que você só procura abrigo,
mas não deixa ninguém ver
Por quê será ?
Eu que nunca fui assim
muito de ganhar,
junto às mãos ao meu redor...
Faço o melhor que sou capaz -
só pra viver em paz!
(Los Hermanos - O Vencedor - Marcelo Camelo)
Imagens: David Vencedor retirada do site www.artehistoria.com e
David Vencedor de Goliat Caravaggio do site www.filosofia .tk
Lágrima - patdamian.blogspot.com

domingo, novembro 26

Recapitulando, porque eu ainda lembro...









Fênix
Eu,

Prisioneiro meu

Descobri no breu

Uma constelação

Céus,

Conheci os céus

Pelos olhos seus

Véu de contemplação

Deus,

Condenado eu fui

A forjar o amor

No aço do rancor

E a transpor as leis

Mesquinhas dos mortais

Vou

Entre a redenção

E o esplendor

De por você viver

Sim,

Quis sair de mim

Esquecer quem sou

E respirar por ti

E assim transpor as leis

Mesquinhas dos mortais

Agoniza virgem Fênix

O amor

Entre cinzas, arco-íris e esplendor

Por viver às juras de satisfazer

O ego mortal

Coisa pequenina,

Centelha divina

Renasceu das cinzas

Onde foi ruína

Pássaro ferido
(...)
Renascer das cinzas

Quando o frio vem
Nos aquecer o coração
Quando a noite faz nascer
A luz da escuridão
E a dor revela a mais
Esplendida emoção:
- O amor
Versão: Jorge Versilo






Imagens: www.sectumsempra.com.ar/abaixodecao.blogspot.com/fenix.splinder.com/www.alucine.com
- Vi e ouvi isso daqui ontem e me senti assim... Meio vítima (daquilo que " só se deseja aos inimigos") e meio fênix até pelo triste final da história a que me refiro... Mas hei de continuar tentando "transpor as leis mesquinhas dos mortais", principalmente depois que esquecer-me até de que te esqueci, porque disto, ainda me lembro... Marcelle.

sábado, novembro 25

Quando o verbo pega o delírio: geografo!


Palavras embargadas


Hoje geografei sobre a superfície

E a litos que esfera pedra era

derreteu-se em meus olhos, sangrados de magma.

É que em mim se prenuncia um vulcão

recortado de câmaras que trilham interiores

abarrotados de rochas rápidas e enxofre,e mediante pressão, acertam a tantos...

Geografo todas as vezes que represento-me

e reconheço-me naquele lugar.

Torno-me placa instável

à deriva de fraturas e de sua própria consumação.

Ainda que na superfície,vejo esculturas lambidas em erosão;

e bacias onde deposito os sonhos vãos,

achatados pelo tempo.

Em nada a crosta se desliga das erupções internas

E as descontinuidades?

Estas, enquanto hiato, apenas lembram,

tal qual a liga que faz o hífen da separação:

a frieza da crosta é o endurecimento do magma -

este líquido fervente que teima escorrer de meus olhos.

E se isto me queima, também me alivia,

posto que bênção de Shiva.

Põe-me diante da grandeza do que reconheço.

Desconheço...

e me origina de tempos que não alcanço.

28/03/2006 - 18h40

Márcia

Imagem obtida em: http://oberdorf.org/oly/US/Hawaii/Magma.jpg


sexta-feira, novembro 24

Elegia Bancarrota...

Imagem obtida em:

(ou, para Marcelle, Moderação)


Meu lugar é aqui.

O fluxo me empurra, me atropela.

Nunca soube que poemas tivessem pés.

Versos de cinco pés, versos de seis pés.

Pentâmetros... Hexâmetros...

Da Elegia só guardo a melancolia!!!!

Do movimento que empurra, fratura, quebra.

Da bancarrota que falo,

não há tom em azul.

Imagem obtida em: http://www.pbase.com/image/26745725
Há a cor da terra

no sonho jambo insolvente.

É estranho dizer:

Mas, meu lugar tornou-se aqui!

É um lugar sendo de passagem.

É um lugar que me leva,

Que torna minhas raízes pés.

Não pés de versos,

Nem de jacarandá!

Muito menos pés de sonhos de meu éden tropical.

Porque sonhos se vão sem que sejam em vão!

Os diamantes que não rolam pelo chão,

óbvio: ninguém quer comprar.

E eu não posso, não quero vender,

queria mesmo era enraizar!

A varanda é lugar de passagem.

Mas também é lugar de encontro.

Então, eu quero ficar!

Ficando não encontro o mar!

Enraizando, não canto a melancolia dos que vão.

Indo, não vejo as estrelas que à noite rolam no chão.

Imagem obtida em: http://www.natalino.com.br/sinaleiro/archives/2004_04.html Ninguém vai vender.

Exílio não se vende:

Se busca, ou para ele é tocado.

O preto no branco da varanda do degredo, que não é blue,

Na minha bancarrota estada no mundo

Fico entre o aqui e o lá.

A raiz e o pé.

O agora e o depois (o passado a gente dá como esquecido)

Entre o que foi e o que virá.

Nesta insolvência que me impulsiona

Da Casa Sincera para o MAR.

Márcia, em 23/11/2006. (Embora estivesse fervendo este texto mentalmente há um tempo, veio ontem por inteiro na aula de MKT I, em questão de segundos, enquanto um aluno ou outro me chamava para tirar uma dúvida do trabalho que estava sendo feito.)