Recebi por e-mail e lavei a minha alma... por causa do que escreverei ao final...
Desconheço a origem da imagem.
UM CORDEL PARA JABOR Jorge Filó
Este cordel que apresento
Sem nenhuma pretensão
E mesmo que lhe pareça
Ser verdadeira a versão
Ainda que eu não garanta
É uma mera ficção.
Assim começa o cordel
Justo na reflexão
Tô falando do espelho
Da nossa imaginação
Que as vezes num belo dia
Prega em nós grande lição.
Como se Arnaldo Jabor
Num exame de consciência
Um belo dia acordasse
Com toda sua eloqüência
E em conversa mostrasse
Sua verdadeira essência.
"Caros amigos leitores
Eu sou Arnaldo Jabor
Cineasta e jornalista
Direitista e traidor
Também sou um caga-pau
Xeleleu e delator.
Do clã Roberto Marinho
Sou baba-ovo da hora
Digo só o que eles querem
Creio e nego, sem demora
Sou um neo-liberalista
Por enquanto, até agora...
Um dia já fui esquerda
Era na luta engajado
No cinema brasileiro
Contestei fui contestado
Hoje meu cinema é outro
Pelo poder fui comprado.
Hoje voto na direita
No maior descaramento
Nego tudo que outrora
Mostrava em meu pensamento
Glauber Rocha tando vivo
Seria o meu tormento.
Mudei de convicções
As antigas companhias
Agora sou um amigo
Das grandes oligarquias
Digo tudo qu`eles mandam
Mentiras, patifarias.
É assim que a coisa anda
É assim que o mundo gira
Sou um lobo carniceiro
A serviço da mentira
Se eu não tirar o meu
Chega outro vem e tira.
Faço uso da palavra
Pra defender meu quinhão
Quero mais é que se fôda
Quem defende esta nação
Meu caviá garantido
Para quê preocupação.
Sou perverso no que digo
E ainda sou respeitado
Pois a mentira é quem dita
Dita por quem ta do lado
Dos grandes exploradores
Do poder televisado.
Faço do verbo navalha
Quero mais é ta por cima
Vai viver sempre enganado
Aquele que subestima
A minha capacidade
De cagar uma obra-prima.
Agora devo ir embora
Meu trabalho me espera
Vou inventar outra estória
Para parecer de Vera
E quem ler sempre acredita
Na minha nova quimera."
Este cordel esquisito
Que acabamos de ler
É fruto do pensamento
Que acabo de escrever
Me chamo Jorge Filó
Em mim você pode crer.
Um forte abraço do poeta Jorge Filó.
Recife - Pernambuco - Brasil
Explico: esta semana me vi refletindo sobre o problema do mal.
Seguinte: meu amigo Halisson me repassou uma material que o próprio usou em uma apresentação acadêmica na UENF sobre o tema "A banalidade do mal", baseado na filósofa judia Hannah Arendt.
Neste texto, Arendt analisa o caso Eichmann, que trabalhou diretamente na logística da "solução final" dos judeus para viabilizar o extermínio em massa.
Sobre a pessoa de Eichmann, diz Arendt: “Os feitos eram monstruosos, mas o executante (...) era ordinário, comum, nem demoníaco, nem monstruoso” . Arendt defende, assim, que o mal de Eichmann era a irreflexão, a superficialidade.
“Clichês, frases feitas, adesão de códigos de expressão e conduta convencionais tem a função socialmente reconhecida de nos proteger da realidade, ou seja, da exigência de atenção do pensamento feita por todos os atos e acontecimento em virtude de sua mera existência” (H. Arendt)
Vivemos numa cultura de superficialidade e irreflexão, e é evidente o espaço que a perversidade ganha nesta mesma cultura.
O que o A. Jabor tem a ver com isto? Alguém já leu textos do mesmo extremamente bem escritos, nada superficiais, elegantes, sedutores, convincentes, em que ao final ele coloca o leitor, quase sempre superficial, no bolso, defendendo pena de morte, marginalização progressiva de quem já vive em estado de exclusão total, privatização da segurança (munição doméstica), e outros que no momento não me recordo.
E do ponto de vista moral: já viram como ele tipifica as mulheres? Já viram as defesas de "cornidão preventiva" masculina? Dizer que ele é mais um machista em uma sociedade machista, daria conta da irresistível vontade de ceder aos seus argumentos por tantos leitores que o mesmo arrebanha?
Seria Jabor uma reprodução global de Eichmann?
Sugiro que a gente repense a banalidade do mal quando esta é usada pela inteligência do mal.
Saudações humanistas aos humanos e não-humanos que se ressentem da propagação da perversidade.
Márcia Mérida