É mesmo interessante se pensar na partilha de um lugar de exílio, um degredo, com alguém muito querido, ou querida, cujas formas de comunição extrapolam o dito.
Enquanto escrevia as "dicas" abaixo contidas, Marcelle escrevia um poema que, quando li, delirei na idéia de que aquelas palavras haviam sido furtadas de mim, da mesma forma que ela se sentiu quando leu o meu "um trago".
Então, já que ela disse que não iria publicar o poema, aqui estou como se fosse meu, embora assumindo não ser.
Estaca
E tentou apagar como se pudesse,
Escreveu com seu sangue em meu rosto,
Com o punho cortado, mas sem veias,
Penetrou nestes escombros indiferente,
Avassalou aqui por dentro, sem pressa,
Disfarçou nos belos olhos de serpente
Os planos macabros de sua teia.
Dividiu... lacrou...
Como lacraia dos ventos entorpecentes,
Como dragão de hálito maldito,
Como se sangrando o outro quisesse
Alimentar o próprio instinto...
Como se noivo do sono campestre
Iluminasse o sono infinito,
E resgatasse na oportunidade que me desse,
A queda do vigésimo quinto
Sem previsão, sem vida que floresça,
Por derrapar no último grito...
É sangue, é terra, é despedida
É eterno pesar, é sussurro inatingido:
VOCÊ.
Imagem retirada de: www.vidaecia.blogger.com.br
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3 comentários:
Ei, esse texto é tudo. Mas me remeteu a este outro, do seu amado.
Teresinha
O primeiro me chegou como quem vem do florista
Trouxe um bicho de pelúcia, trouxe um broche de ametista
Me contou suas viagens e as vantagens que ele tinha
Me mostrou o seu relógio, me chamava de rainha
Me encontrou tão desarmada que tocou meu coração
Mas não me negava nada, e assustada, eu disse não
O segundo me chegou como quem chega do bar
Trouxe um litro de aguardente tão amarga de tragar
Indagou o meu passado e cheirou minha comida
Vasculhou minha gaveta me chamava de perdida
Me encontrou tão desarmada que arranhou meu coração
Mas não me entregava nada, e assustada, eu disse não
O terceiro me chegou como quem chega do nada
Ele não me trouxe nada também nada perguntou
Mal sei como ele se chama mas entendo o que ele quer
Se deitou na minha cama e me chama de mulher
Foi chegando sorrateiro e antes que eu dissesse não
Se instalou feito um posseiro dentro do meu coração
Viajei muito?
Olha Claudinha, sinceramente tô achando tudo muito doido... Primeiro, eu e Márcia escrevemos sobre o mesmo tema sem nos sabermos, no mesmo dia praticamente... Agora me vem você!!! Engraçado... Estranho... Curioso... Mas fato é que não tenho motivos pra inventar uma coisa dessas: a sua "viagem" talvez poderia até ter sido mesmo viagem se não fosse a imensa coincidência de que no dia em aconteceu "Estaca" tive um surto psicótico, saquei um CD de Maria Bethânia e percorri 80 km de carro ouvindo exatamente essa música em repetição contínua, me descobrindo saudosa desta combinação (letra-melodia hipnótica) e curtindo como se ouvindo pela primeira vez cada passada!!! A viagem sua me fez resgatar a possibilidade de haver algum sentido entre os dois textos inconscientemente declarado, porque na releitura de ambos confesso apenas rir-me da viagem de ida minha e de volta sua... Talvez tenha alguma explicação... Mas não encontrei nenhuma explicável nitidamente... Você viu? Bem, agradeço muito este comentário, muito mesmo! Inclusive porque havia me convencido de pegar esta letra da NET e vc já mandou prontinha pra mim. (Risos) Um beijo, apareça mais vezes na varanda, Marcelle.
Ui! Arrepiei!!!!
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