sábado, novembro 4

Um trago


Que tal?

Fumo a minha solidão insana,

Queimada no cansaço de existir

Não há com quem dividir este trago,

Posto que queima, e não há quem se arrisque.

Quem ousa arder?

Promessas de que o fogo apura...

Amalgama a existência,

Passa pelo abrasar!

Se não há fusão de seres, consumo o meu!

Inútil neste mundo de poesias inconclusas.

No incêndio que transforma tudo em cinza

Desejo ardentemente que eu me transforme,

Que este trago me desprenda do outro verdadeiramente outro

Que ainda não existe!

Que nunca existiu...

Sapo que não virou príncipe!

O outro que se aproxima, ignora as pérolas que desprendo de mim.

Resta-me uma ostra,

Vazia!

O fogo reduz, o que seria, a pó...

Não há com quem se amalgamar!

E eu que já não creio em fronteiras eficazes,

Perco-me na minha própria diluição

Da fumaça do que me torra!

Queimar há de ser uma bênção

Eu apelo para que a dor se desfaça!

Outrora sonhei com jardins neste mundo cinzento...

Pomares, chão coberto de flores rosa do fruto querido, jambo.

Posto para trás,

Risco e segurança são balizas que me fazem seguir!

Para onde?

Sei lá!

Para um utopos... para um ucronos...

Que se ainda não existem,

As cinzas marcam a ausência hoje do que não foi possível.

O que falta foi duramente construído na ousadia

De não ser o que se previu,

Mas o que desejei

Ou o que ainda desejo.

Aqui é apenas o registro do que não se fez,

Do que não se faz,

Mas que é ambicionado como um sentido para existir!

Cansaço...

Exaustão...

de ter-me dado como pérolas aos porcos!

Eu, que não sou pérola,

Eu, que não sou jóia,

Eu que ardo na fornalha,

Para ser de melhor quilate!

Ilusão...

Vai um trago?

Márcia

02/11/2006

5 comentários:

Anônimo disse...

Márcia, adorei sua poesia!!! Mas esta parte: "Exaustão...
de ter-me dado como pérolas aos porcos!" é o que penso sobre as consequencias de pra onde o cigarro nos leva, e que é com um trago que começa a caminhada pra infelicidade e a vida deixa de ser "um caminho para felicidade". Gostaria muito que minha irmã parasse de fumar... Me ajude a fazer um abaixo-assinado. Beijos, Guguzinho.

Varanda do Degredo disse...

Oi Guguzinho!
Eu concordo com vc... Inclusive vou lançar uma campanha neste blog ainda hoje contra tudo que nos faz lançar como pedras aos porcos...
Sua irmã, nossa irmã sabe disto! E... a poesia não é uma campanha à favor do fumo, ok? Ela é apenas o escrito de uma sentimento sobre as coisas que nos consomem e que fazem parte da vida, e que se a gente não se cuidar deixa a gente vazia e fechada como uma ostra!
Um grande beijo para vc e apareça por aqui mais vezes! Márcia

Varanda do Degredo disse...

Uma amiga minha, Claudinha, fez o seguinte comentário que não conseguiu postar...
Trouxe para cá, pois não poderia deixar de exibir o talento também antididático dela, mas profundamente pedagógico! Um dia eu ainda aprendo a brincar com as palavras como ela... rs. Então, com vcs, Claudinha comentando:


“Pena que não consegui por comentário no texto cancerígeno que você escreveu sobre cigarros... Comentário idiotaaaaaaa! Gostei. (...)caiu como uma luva. Ai, Mérida, a vida é uma merda (perdoe a brincadeira)! Mas você tem talento. Quando eu for dona da minha própria editora de livros antididáticos, certamente você encabeçará a lista dos meus contratados. Você e Latour! Produza mais! Já consigo ver o hibridismo batendo à porta, repórteres querendo conhecer este ser mutante que não é poeta e nem geógrafa, mas é advogada que não advoga e historiadora que trabalha com mas não conta história(Ou conta e eu não sei?), o que me leva a acreditar que dentro de seu corpo habitam alguns seres esquizofrênicos e... HÍBRIDOS! Espero que a minha pequena editora, a Letras Tortas, tenha "C...lhão" para sustentar a sua escrita! Beijão grandão e, antes que eu me esqueça, a CIA DAS LETRAS mandou avisar que o livrinho tá lá, esperando por você. Disse até que ele já grita pelo seu nome! Ê, ê, "mizi fia", vai lá e compra o bichinho! Miséria pouca sempre foi e sempre será bobagem. E o intelecto agradece!”

Varanda do Degredo disse...

Vai um trago sim, claro!
Mas não sei se devo retratar aqui obra ou autora...
Talvez porque seja redundante
(rio-me de minha distração):
Um é parte, outro é todo,
ambos - irmãos!
Faces da mesma moeda,
membro ainda não amputado,
simplesmente parte
que não parte na execução...
Algo meio filho, meio cria,
meio vilão...
Aquilo que parte das entranhas,
leva um pouco da gente,
mas não chora, não sente,
não desagarra não...

E arte é sempre arte...
Travessura, ousadia,
destempero que salga alguém...
Alguns vão rir; outros brigar;
Eles vão seguir; estes caçoar...
Porque arte é meio isso:
livre pra existir; belo pra chocar;
verdade dita de "mim"
feita pra discordar...
Um escândalo, um tapa, um sopro, um beijo, um toque.

Obra de arte é... a fusão...
Toca a gente pela alma...
Estremece os músculos...
Embaça os olhos...
Dribla a razão:
Diz o que não foi dito,
Sente o que não foi dito,
Simplesmente diz!
Escutar é problema do outro!!!

Vai um trago sim, Márcia, claro!!! Mas não sei se devo aqui retratar obra ou autora!
- Roubastes minhas palavras!!!
Felicidade é tê-la fazendo arte, jogando na varanda e presente no exílio!!! Continuemos... Marcelle

Anônimo disse...

Putz!!!
Já não sei quem está escrevendo...
Também quero um trago, um gole, um toque!
Se é furto, aqui, ladrão que rouba de ladrão tem 100 anos de emoção!
Um beijo e faça o favor de publicar na página, pois aqui não vale!!
Márcia